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terça-feira, 7 de maio de 2013

A comida foi rápida, a dor de barriga não

Por Rodrigo Martins

No meu tempo não era assim! Essa frase era usada corriqueiramente devido as rápidas mudanças que as coisas tomavam. Essas mudanças ocorrem em todos os "setores" da vida. Nossa comida agora é "food" e nem é necessário entrar em um restaurante, no carro mesmo e falando com uma máquina: prontinho, só comer! Mais "fast" que isso impossível.


Em casa o controle remoto dita as regras. Mesmo com uma TV e mais de 100 canais, apenas 3 são usados. Na balada não é diferente: "E aí, gata, suave?" e assim por diante...

Óbvio que a mudança faz parte da vida, nada é estático, porém pergunto-me: estamos evoluindo ou involuindo?

Os domingos eram sagrados. A união familiar em torno do macarrão com frango da vovó era mais que um ato de alimentação, era uma tradição irrevogável. As pessoas mais velhas ficavam em torno do fogão e cada um responsável por um item alimentar. Os de idade média, responsáveis por saladas e sobremesas, os mais novos por colocarem os pratos, talheres e copos. A louça era divida após a refeição, uns lavam outros secam e assim sucessivamente. Fato era que o ato unia sobre a casa toda a família  os diversos assuntos discutidos, as conversas paralelas, as brincadeiras de primos. Isso acrescentava na família um encorajador ato de união inexplicável, inclusive nas brigas: "Eu falo mal do meu irmão, mas não permito que ninguém o faça".

Os programas como "Faustão" e "Silvio Santos" foram criados neste pilar, o pilar em torno da TV após almoço. Eram programas familiares, com piadas prontas, sorrisos simples e sonhos realizados. A família unia-se em torno daTVv e impunham suas vontades: "quero assistir sertanejo", "quero ver Roberto Carlos", "roda, roda a esperança", "quem quer dinheiro" e por aí sucessivamente. Porém, as bundas venderam mais em banheiras e auditórios e enquanto a audiência aumentou, a união familiar diminuiu. Afinal as mulheres não se sentiam bem com seus maridos vendo mulheres com corpos esculturais enquanto elas possuíam corpos de seres "normais".

As noites festeiras nunca foram diferentes, a arte da conquista era de fato algo a se prezar, pois bem, as fofocas eram simples: "o João esta paquerando a Regina da rua 5". A arte da paquera era algo invejável. O tempo não era problema, levava-se um mês para convidar para sair, dois meses para beijar a mão e três meses para pedir em namoro. Durante esse período  admirava-se um ao outro, conhecia um ao outro, decidiam-se, casamento ou ou não.

Quando ouço: "não se fazem mais casais como meus pais ou avós, amor de verdade, em que um foi feito para o outro", fico me perguntando: não se pensam como se um fosse feito um para o outro, mas sim em que todos fossem feitos para todos. "Mesmo com todas as opções, eu escolhi meu amor de verdade".

A arte do respeito é escrupulosa e falha, os corpos expostos como objetos de desejos dificultam pessoas com corpos normais de competirem, afastando a originalidade de um simples corpo "desescultural".

As redes sociais que criam amizades e fatos "fast", quantos amigos foram até você no seu aniversário e quantos lhe felicitaram virtualmente, quantos virtualmente te cantam, te encantam, te enganam e quantos você cai? O "fast food" é passageiro, mas as dores de barriga duram muito mais...

Encontrar seres pensantes e admiráveis é cada dia mais raro. Uma vez que visitar um museu, ler um livro, ir ao teatro ou sonhar, simplesmente sonhar, está tornando-se um ato "vergonhoso" e "inatingível".

A reflexão é valida: "o mundo que deixaremos para nossos filhos, dependerá dos filhos que deixaremos para nosso mundo!". Valorizar o amor, o poder de dizer não, o ato de não aceitar o bombardeio midiático e exclusivamente buscar conhecimentos fora dos muros escolares são ações que mudarão os próximos, mas que não permitirão a perda dos velhos.

A importância de amar e respeitar o que se tem, é menos doloroso do que se sofrer pelo que se tinha, o valor de uma amizade não se mede pela presença de um ao lado do outro e sim na fidelidade da distância de um para o outro, e assim, só assim poderemos garantir que mudar é preciso, mas involuir é opcional.

Um comentário:

Álvaro Diogo disse...

Pow, o texto fala de tanta coisa ao mesmo tempo, mas está muito bom!

Queria só deixar registrado um trecho de um artigo que li na Caros Amigos Especial Juventude:

"(...) A frase: "a família não é mais a mesma", já indica a crença de que em algum momento a família brasileira teria correspondido a um padrão fora da história. Indica que avaliamos nossa vida familiar em comparação a um modelo de família idealizado, modelo que correspondeu às necessidades da sociedade burguesa emergente em meados do século 19."

A frase faria mais sentido se fosse assim: A família nuclear "normal", monogâmica e patriarcal não é mais a mesma.

Não estou criticando as suas ilustrações de uma família em um "tempo bom que não volta mais", mas sim tentar mostrar que até os princípios de evolução e involução podem variar dependendo do ponto de vista.

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