Uma das notícias que mais criou polêmica nos últimos meses foi a de que no município de Suzano, estado de SP, um casal mantinha um matadouro de cães e gatos para vender suas carnes para restaurantes, principalmente os da capital.
Cidadania - Rosana Gnipper e Andresa Jacobs
Animais que foram abandonados e que viviam nas ruas da cidade eram atraídos com alimento e mortos a machadadas, num local que tinha como fachada uma borracharia. Alguns animais, muito debilitados, duravam um pouco mais, pois eram mantidos por mais algumas semanas para serem engordados antes da machadada fatal. Assim foram encontrados alguns cães, ainda vivos, mantidos acorrentados.
Em que mundo vivemos? Alguns perguntam, outros ousam responder e muitos silenciam. Afinal de contas, onde está o limite para a aprovação de atos cruéis em nome da “cultura” ou “costumes” ou “hábitos socialmente aceitos”?
A pergunta que não quer calar é, porque essa notícia chocou tanto as pessoas? Para alguns foi porque os animais mortos são considerados pela maioria de nós como de estimação, convivendo próximos e considerados membros da família, inclusive. Para outros foi o método aplicado, pois matar um animal a machadadas não é socialmente aceito. Para outros foi a traição, pois os animais pensavam que tinham ganho um novo lar e de repente…
Talvez se a morte desses animais fosse a facadas a notícia não teria causado tanta indignação, afinal de contas, muitos bois, galinhas e porcos ainda são mortos a facadas em rituais familiares para comemoração de aniversários, casamentos, batizados, ou mesmo para comemorar que o time da casa ganhou o campeonato de futebol. E na época das festas de final de ano lá se vão os pobres dos perus! Enquanto uns matam, outros aquecem a água no tacho, as crianças brincam, as panelas borbulham. Ah! Mas isso é no interior; nas fazendas, chácaras, não na capital! Verdade!
Para servir de alimento para as pessoas que moram na capital os bois, galinhas e porcos são mortos de forma diferente … e também os perus! E os Chesters? Deixemos esses de lado, por enquanto, pois nem existiam há pouco tempo e não sei de onde vieram e em que parte da cadeia alimentar eles se encontram. Isso para quem ainda se esconde por trás da famigerada “cadeia alimentar” para justificar sua fome por cadáveres de animais. Pobres estômagos humanos, que se transformam em cemitérios de animais!
Os matadouros ou abatedouros, socialmente aceitos como locais adequados para que os animais possam dar suas vidas em benefício da humanidade, são inspecionados, fiscalizados e as facadas são dadas após o animal ter sido insensibilizado, ou seja, não sentiu o ato cruel que lhe tirou a vida. Isso é chamado de “abate humanitário”. E o ato não é tido como cruel, mas como necessário. Onde está o ato humanitário de tirar a vida daquele que deseja continuar vivo e expressa esse desejo se tiver oportunidade de fazê-lo?
No Brasil maltratar animais é crime (lei 9605/98, artigo 32). Mas, matar animais talvez não o seja, principalmente se o ato foi realizado “humanitariamente”. Ganha até prêmios e aplausos quem está ensinando a matar “humanitariamente”, afinal de contas o Brasil precisa exportar a carne de seus animais e a comunidade européia não quer comprar a carne de animais que sofreram para serem mortos. Então, quer dizer que matar animais continua sendo um ótimo negócio. Pensei que fosse crime, porque para mim o ato de matar é um ato de maltrato! É que sempre me esqueço que vivemos num mundo de valores invertidos.
E, nessa lógica, ainda não entendi o crime cometido pelo casal coreano.
Ironias e hipocrisias à parte.
Jamais poderia pactuar com um crime bárbaro desses, praticado contra seres inocentes, que já sofreram tanto com o abandono e todo o desdobramento deste ato repugnante praticado por pessoas irresponsáveis e ainda foram cair nas mãos de pessoas sem nenhum sentimento de humanidade. Humanidade aqui no sentido de compaixão, amor ao próximo, amor à vida. Pessoas que merecem ser mandadas embora de nosso país. E, pior ainda, o que aconteceu àqueles estabelecimentos comerciais que recebiam o produto final do crime? E às outras pessoas que se lambuzavam com partes de uma vida ceifada colocadas em seus pratos como se fosse um alimento? Isso é gente? Isso é ser humano? Afinal de contas, o que é ser Humano?
5 comentários:
Muito bom....parabens!!
Conceteza naum é isso...
eu estou longe ser uma pessoa muito humana, mais eu sei diferenciar o certo do errado.
É injusto ser “justo” apenas com uma parte. Assassinos vão pra cadeia. Mas qual o significado de asassino? Para o meu amigo Aurélio e eu assassino é aquele que mata com premeditação ou à traição. Não está classificado por expécie, matar é matar! Naum existe diferença entre matar um pessoa ou ou cachorro! Definitivamente naum existe diferença entre matar um boi, vaca, porco ou uma pessoa. É isso o que as pessoas naum conseguem enteder, nau que seja dificil, mas talvez pra elas seja mais comodo acreditarem nisso!
Não acredito que "No Brasil" estes conceitos "humanitários" sejam inéditos. O Brasil não é unico país a cometer, e cultivar de falhas legislativas.
Manda-los para fora do país é um egocentrismo nacional idealizado. O que farão estes que foram exilados lá fora? O Mesmo que sempre fizeram aqui.
Tirando estes dois fatos, concordo plenamente com o texto muito bem produzido. O Aurélio diz a verdade de meus conceitos também, e olha que ele sempre soube destacar as pequenas diferenças.
Realmente um texto assim, faz qualquer um parar para pensar.
haha, que bom! =]
Postar um comentário