--- Frase de Agora! ---
"A água é para os escolhidos
Mas como podemos esperar que sejamos nós..
... eu e você?"

Máquina do Tempo: Vaga Viva do Coletivo Ideia Nossa. A única vaga viva do lado de cá da ponte =) Vaga Viva do Ideia Nossa

Destaque da Semana: Onde está o sol que estava aqui?
Ladrões de sol, crise hídrica e êxodo rural

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Papel de Parede - Janeiro 2011

O Instituto Nina Rosa desenvolveu papéis de parede (wallpapers) para você. Cada mês do ano 2011 você terá a companhia da imagem de um episódio do filme Vegana. Um bom mês para todos nós!
Para baixar gratuitamente o papel de parede, clique na dimensão mais adequada ao seu monitor. A reprodução é livre.


Está estranhando não ver a foto belíssima de um animal como eram os wallpapers do ano passado? Ex: Agosto de 2010

Pois é, recentemente o Instituto Nina Rosa lançou uma animação chamada "Vegana" e os meses deste ano serão inspirados em cada capítulo para fazer o papel de parede... De quebra tive a ideia de compartilhar, todo mês, o papel de parede e um episódio da série. O que acham?

Vegana - Inspiração


Feliz 2011 repleto de novas ideias e ideais!!!

@alvarodiogo "A consciência do respeito pelos animais e pela natureza está se irradiando pelo mundo todo!"

domingo, 26 de dezembro de 2010

Ciclovia Taboão da Serra

Ciclovia Taboão da Serra

Resolvi comemorar meu Natal de forma diferente. Não me rendi às tentações publicitárias de comprar presentes para todos os meus conhecidos no cartão de crédito (aliás, eu nem tenho cartão de crédito).

O post do site 10 por Hora sobre Fim de Ano Sem Publicitários me inspirou! No caminho da casa da Pri, onde iria dar comida e passear com o Beavis, resolvi dar uma volta percorrendo todo o trecho da ciclovia de Taboão da Serra, curtindo este céu azul e sentindo a brisa me levar...

Apesar de toda polêmica que as obras da ciclovia geraram, acredito que a integração e redemocratização da cidade que ela promove é fascinante!

Poder pedalar ou caminhar sob as sombras das árvores à margem do córrego Poá muda completamente a concepção da paisagem que muitas pessoas só conhecem de dentro de um automóvel.

Esse contato com estes fragmentos da Mata Atlântica que ainda restam na cidade me dá mais forças para lutar para que um dia a Bacia do Pirajuçara volte a ter vida e que a cidade volte a pertencer às pessoas e não aos automóveis.

Para tanto convido todos a participarem do Plano de Saneamento da cidade, que terá uma segunda etapa da conferência geral em janeiro, onde assim que a data estiver marcada venho divulgar através de um novo post.

Pelo caminho encontrei diversas pessoas utilizando a ciclovia, não apenas com suas bicicletas, mas também caminhando, fazendo cooper, passeando com seus cachorros e voltando com sacolas de algum comércio próximo. Público bem diferente dos trabalhadores e estudantes que são encontrados indo e vindo do trabalho/escola no horário de pico.

Após percorrer a Av. Armando de Andrade tive uma grata surpresa! Acho que nossa movimentação para que a prefeitura não paralisasse as obras e finaliza-se o trecho Eliseu de Almeida-Cidade Intercap deu certo!

A calçada compartilhada em frente à UBS Akira Tada finalmente saiu do papel!

Agora temos que nos mobilizar para que a prefeitura e o Governo Federal viabilize os outros trechos previstos no Plano Diretor para a cidade.



Ainda não assinou a petição pela continuidade das obras cicloviárias em Taboão da Serra?


Mas há uma triste visão no horizonte que a copa das árvores não conseguem mais esconder...

Há em Taboão da Serra uma especulação imobiliária tamanha que incha cada vez mais nossa densidade populacional. Ergue-se torres residenciais sem prudência alguma, sem pensar na infraestrutura que tantas pessoas demandarão.

O que entristece mais é que me parece que
por detrás de cada torre há um vereador como
facilitador do empreendimento...

Ambos os condomínios ao lado podem ser vistos de praticamente qualquer lugar da cidade, mas eles tinham que estar ali, ferindo a paisagem do Parque Linear do Córrego Poá?

Na bicicletada realizada pelo Instituto Ciclo Br, após a discussão sobre a ciclovia realizada no Pq. das Hortências, em que fomos pedalar ao longo do trecho e dialogar com os moradores insatisfeitos com a obra ouvi um absurdo que me tira o sono até hoje...

Certo morador da região, que indignado com as obras da ciclovia, me vira e diz:

"Esse prefeito não sabe gastar o dinheiro do nosso IPTU! Ao invés de ficar plantando árvores no parque e fazendo ciclovias, por que não canaliza logo esse córrego fedido e abre mais uma pista para desafogar o trânsito..."



Ele falou tudo o que nunca gostaria de ter ouvido. (Hey, prefeito, por favor não lhe dê ouvidos, não, tá?)

Para começar as verbas da ciclovia não são
municipais, veem de um convênio com a Caixa
Econômica via Governo Federal.

E esse cara queria mesmo que não fossem plantadas essas árvores ao lado? E pior! No lugar delas queria que fossem feitas mais faixas para os carros passarem?

Que fazer com um cara desse? Interna esse carrocrata!

- Eu continuarei lutando para que o córrego fedido não seja canalizado e sim para que ele deixe de ser fedido!
- Eu continuarei lutando para que os filhos e os netos desse senhor possam andar na rua da maneira que bem entenderem e não apenas dentro de um automóvel.
- Eu continuarei lutando para que mais árvores, parques e praças sejam criados para que a qualidade de vida aumente e o meio ambiente se equilibre.
- Eu continuarei lutando para que políticas de incentivo ao transporte alternativo e ao transporte público venham à frente de políticas para o transporte individual!

Ao longo desta pedalada vespertina refleti.

Refleti sobre o barulho que forças contrárias fizeram para que a prefeitura deixasse de executar estas obras e me espanto que ao passar as eleições nem ecos são audíveis.

Ainda não compreendo muito bem estas manobras eleitorais. E acho melhor que seja assim...

Se você não sabe do que estou falando, veja a cobertura excelente do Allan dos Reis para o Taboão em Foco sobre a polêmica envolvendo a ciclovia: CicloBR: Projeto da ciclovia é bom, mas falta sinalização (Não deixe de ler os comentários)

Nas fotos ao lado vemos os diferentes usos que
havia comentado no início do post para a ciclovia e seu parque linear: as crianças brincam em segurança, os cachorros passeiam e os skatistas também tem a sua vez!

Chamo a atenção para um elemento comum nas três fotografias: o poste metálico.


Nas duas primeiras fotos são da iluminação, fato tão reivindicado pelos moradores da região e ao lado do skatista mirim da terceira foto é a primeira etapa da sinalização da ciclovia saindo do papel... finalmente!

Ah! Outra grande boa notícia é que parece que Taboão está caminhando para realmente ser uma cidade ciclável!

Paraciclos serão instalados nos equipamentos públicos (escolas, CRAS, quadras poliesportivas, entre outros), agora sim terão utilidade e não estarão sub-utilizados como os existentes ao longo da ciclovia.


Só para finalizar o relato do meu passeio natalino, percebi também que os motoristas estão começando a respeitar a ciclovia. No começo era comum ver pessoas fazendo ultrapassagens pela ciclovia e usando-a como estacionamento. Felizmente não vi nada parecido desta vez e para quem não conhece o CTB fica a dica:

"Capítulo XV - Das Infrações
Art. 193. Transitar com o veículo em calçadas, passeios, passarelas, ciclovias, ciclofaixas, ilhas, refúgios, ajardinamentos, canteiros centrais e divisores de pista de rolamento, acostamentos, marcas de canalização, gramados e jardins públicos:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (três vezes)."

E você como passou seu natal?

Abaixo deixo mais retratos deste passeio e convido-os para pedalarem também!

@alvarodiogo "Vá de bike!"

-----

sábado, 25 de dezembro de 2010

Receita para um novo dia - Sérgio Vaz

Mais uma contribuição indireta do @poetasergiovaz para este humilde blog. Sirvo e espero que inspire vocês como me inspirou.

Boa leitura!

Dica de leitura:

@alvarodiogo "Compartilhe suas ideias"

-----

Receita para um novo dia - Sérgio Vaz


Pegue um litro de otimismo,
Duas lágrimas – de preferência
Escorridas no passado.

Duas colheres de muita luta
E sonhos à vontade.

Duzentos gramas de presente
E meio quilo de futuro.

Pegue a solidão, descasque-a toda
E jogue fora a semente.

Coloque tudo dentro do peito
E acenda no fogo brando das manhãs de sol.

Mexa com muito entusiasmo.
Ao ferver, não esqueça de colocar
Uma dose de esperança
E várias gotas de liberdade.

Sorrisos largos e abraços apertados,
Para dar um gosto especial.

Quando pronto,
assim que os olhos começarem a brilhar,
Sirva-o de braços abertos.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E se Jesus nascesse em 2010?

O Natal é como qualquer outro feriado do ano, ou melhor, é mais chato, pois nos outros feriados as pessoas estão menos compulsivas e hipócritas e mais divertidas e acessíveis.

Pois bem, desejo felicidades à todos nossos leitores em todos os dias do ano! E deixo esse vídeo para descontrair um pouco... Já pensaram como seria se Jesus tivesse nascido em 2010?

Boa festas e um Natal sem sangue para todos!

@alvarodiogo "Compartilhe suas ideias"

-----

E se Jesus nascesse em 2010?

Getúlio, JK e Lula

Em oito anos, o operário superou os dois grandes mitos nacionais
Leonardo Attuch na IstoÉ Independente

Se houvesse um monte Rushmore no Brasil, o rosto de Luiz Inácio Lula da Silva estaria agora sendo esculpido na rocha. Na pedra verdadeira, foram gravadas as imagens dos quatro maiores líderes da história americana: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. No Brasil, só dois ex-presidentes – Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek – ocupam papéis míticos no imaginário nacional. Agora, há mais um. E ele, Luiz Inácio, conseguiu entrar no seleto clube unindo o que seus antecessores tinham de melhor: a visão social e o espírito desenvolvimentista.

Getúlio, nosso primeiro “pai dos pobres”, até hoje é amado porque incluiu na agenda política um agente antes excluído: o trabalhador. JK, por sua vez, foi o presidente que fez o brasileiro perder seu complexo de vira-lata e acreditar na própria capacidade de realização. Lula tem traços de ambos. Foi o presidente da inclusão social e também aquele que despertou o “espírito animal” dos empresários, que voltaram a acreditar no futuro e a investir. O resultado: um ciclo de oito anos que se encerra com crescimento do PIB de quase 8%.

A vida útil de um mito é determinada pela história. Mas o presidente operário tem tudo para durar mais tempo no coração dos brasileiros do que Getúlio e JK. Sobre o primeiro, haverá sempre a mancha da ditadura implantada no Estado Novo. Sobre o segundo, o peso do desajuste fiscal e da inflação semeada pela construção desenfreada de Brasília. Lula conquistou os seus 80% de popularidade em plena democracia – e teve a sabedoria de rejeitar um terceiro mandato, que poderia colocá-los em risco. Para completar, controlou a inflação e reduziu a dívida pública. Erros, tropeços, bravatas, escândalos... nada disso terá muito peso no balanço final. A lembrança será sempre a do “Lulinha paz e amor”.

E ele, que a partir de agora passará a dar nome a avenidas, escolas e creches em várias metrópoles brasileiras, só terá uma “desvantagem” em relação aos dois outros mitos: a ausência de uma morte trágica. O suicídio de Getúlio, em agosto de 1954, e o acidente automobilístico de JK, em 1976, até hoje questionado, ajudaram a elevar os dois ex-presidentes à categoria dos mártires. Lula, um homem feliz e sem inimigos, tem tudo para levar uma existência pacata até o fim dos seus dias. Tempo, ele terá de sobra depois de 31 de dezembro, como acontece com todo ex-presidente.

A diferença, no caso de Lula, é que seu verdadeiro espaço cronológico será o da eternidade.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Fim de Ano Sem Publicitários

Neste fim de ano, a publicidade invadirá sua privacidade e dirá o que tem que fazer. Ela estará em todo canto, nos postes, nos muros, na net, na televisão, no banheiro do restaurante. Ela te dirá que sua paz, alegria e a comunhão de sua família serão plenas se comprar os produtos oferecidos. Para eles, plásticos que cantam, metais que aceleram, camisas de botão, bolas quadradas, chocolates de limão e vestidos de praia representam a felicidade. Talvez no bolso deles seja verdade. Mas no seu caso…

Seja você neste fim de ano e não deixe que a vontade dos publicitários tome o seu tempo e sobrecarregue seu cartão de crédito. Aproveite, então, para fazer aq
uilo que realmente o faz feliz. Despenda tempo com sua família e amigos, mas não se preocupe com os presentes. Prepara boas piadas, aprenda a cantar uma música, cozinhe uma sobremesa de sorvete com calda de banana. De-lhes amor, atenção, cuidado, humor… Se concentre em rir muito, dar gargalhadas…

Perceba o mundo a dez por hora e sinta o corpo e a mente se desligarem do árduo cotidiano. Vivencie lugares por inteiro. Deixe os sentidos sentirem. Não repita as doses cavalares de ar condicionado e televisão. Pedale, reze, cavalgue, nade, cante, beba, transe, sorria… Ofereça sua atenção a cada coisinha e se surpreenderá com o trabalho noturno das formigas, com o formato das nuvens, com o cheiro da chuva… Perdoe as pombas que habitam seu telhado. Deixe o mundo revelar suas texturas, sons e cores. Deixe o maravilhar com suas faces, sotaques, melodias.

Ah! muito importante. Alivie o Papai Noel, deixe o curtir também, sem trabalhar, sem judiar das renas e sem emitir carbono.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ponha os olhos na China

As autoridades de Pequim estão preparando um plano de combate ao automóvel na cidade (via), incluindo:
- Cada família só pode ter um carro
- Pedágios urbanos
- Matrículas pares (ímpares) só entram na cidade nos dias pares (ímpares)
- É preciso provar que se tem um lugar para estacionar o carro, para o poder registar
- Combustíveis mais caros

Descontando a primeira, todas as medidas já existem em várias cidades mundiais. É bom lembrar ainda que a China tem um projeto muito forte de investimento na ferrovia.

Por aqui, tudo isto seria heresia.
Temos que levar em consideração as proporções do trânsito chinês. Mas, mesmo assim, o nosso trânsito cada vez mais caótico já merece transformações e medidas para vivermos em uma cidade e não em um engarrafamento.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Há mais casa vazia que famílias sem lar em SP

Há mais casa vazia que famílias sem lar em SP

O número de domicílios vagos na cidade de São Paulo seria suficiente para resolver o atual déficit de moradia. E ainda sobrariam casas. Existem, na capital, cerca de 290 mil imóveis que não são habitados, segundo dados preliminares do Censo 2010. Atualmente, 130 mil famílias não têm onde morar, de acordo com a Secretaria Municipal de Habitação – quem vive em habitações irregulares ou precárias, como favelas ou cortiços, não entra nessa conta.
Os recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) encontraram 3.933.448 domicílios residenciais na capital, onde vivem 11.244.369 pessoas. “Foram contabilizadas 107 mil casas fechadas, que são aquelas em que alguém vive lá e não foi encontrado para responder ao questionário”, explicou a coordenadora técnica do Censo, Rosemary Utida. Já as 290 mil residências classificadas como vazias não têm moradores, diz Rosemary.
O Censo de 2000 já mostrava que a capital tinha mais casas vazias do que gente precisando de um lugar para morar, segundo a urbanista Raquel Rolnik, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. “Em 2000, tínhamos cerca de 420 mil domicílios vagos para um déficit de 203 mil moradias. Era quase o dobro”, afirma Raquel.
O secretário municipal de Habitação, Ricardo Pereira Leite, discorda dessa conta. “Se desse para resolver o problema só distribuindo as casas para quem não tem onde morar, seríamos os primeiros a propor isso”, afirma. Segundo Leite, o número revelado pelo Censo diz respeito à vacância de equilíbrio, o tempo em que um imóvel fica vazio enquanto é negociado.
A relatora da ONU avalia que, mesmo que parte desses imóveis precisasse passar por reforma antes de ser destinado à moradia popular, seria possível, pelo menos, reduzir o número de famílias sem-teto. Um dos maiores entraves para a solução do problema, porém, é o preço do solo. “A moradia tem, como função principal, ser um ativo financeiro, e acaba não desempenhando sua função social”, diz a professora da FAU.
Segundo ela, o poder público poderia investir não só na construção de casa, mas em subsídio de aluguel. “Infelizmente temos uma inércia e uma continuidade muito grande nessa área. As políticas públicas não tiveram, ainda, força para provar que o pobre não precisa morar longe, onde não há cidade, aumentando os deslocamentos na cidade”, opina Raquel.
O direito de morar no centro da cidade, onde há maior oferta de trabalho e de transportes públicos, é uma das bandeiras da Frente de Luta por Moradia (FLM), que ocupou quatro prédios abandonados do centro com cerca de 2.080 famílias em 3 de outubro. Como a Justiça determinou a reintegração de posse de dois desses imóveis, parte dos sem-teto está vivendo na calçada da Câmara.
“Os imóveis vazios identificados pelo Censo resolveriam pelo menos 40% do nosso problema”, afirma Osmar Borges, coordenador-geral da FLM. Segundo ele, falta moradia para cerca de 800 mil famílias na cidade. “Falta uma política de habitação que contemple os domicílios vazios. O IPTU progressivo deveria ser usado para forçar o preço a cair”, diz. Borges afirmou que a FLM pretende se reunir hoje com a Superintendência de Habitação Popular da Prefeitura e amanhã com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).

Saramago: tudo é discutível, o que não se discute é a democracia

Já falei aqui como sou fã de Saramago?

Achei este vídeo no Vermelho e creio ser útil gastar 1 minuto e 44 segundos com ele.

Abraços!

Dicas de leitura:

@alvarodiogo "Seja a mídia!"

-----

Saramago: tudo é discutível, o que não se discute é a democracia

Os recentes fatos ligados a perseguição do site Wikileaks e do blog brasileiro Falha de S.Paulo fazem pensar na declaração do escritor José Saramago: "Tudo se descute nesse mundo, menos uma única coisa não se discute: é a democracia. A democracia está aí como uma referência. E não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada e amputada", pois quem tem decidido pelo povo é o sistema financeiro.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Wikileaks: O 1º preso político global da internet e a Intifada eletrônica

Wikileaks: O 1º preso político global da internet e a Intifada eletrônica
por Idelber Avelar, no O Biscoito Fino e a Massa

Julian Assange é o primeiro geek caçado globalmente: pela superpotência militar, por seus estados satélite e pelas principais polícias do mundo. É um australiano cuja atividade na internet catupultou-o de volta à vida real com outra cidadania, a de uma espécie de palestino sem passaporte ou entrada em nenhum lugar. Ele não é o primeiro a ser caçado pelo poder por suas atividades na rede, mas é o primeiro a sofrê-lo de um jeito tentacular, planetário e inescapável. Enquanto que os blogueiros censurados do Irã seriam recebidos como heróis nos EUA para o inevitável espetáculo de propaganda, Assange teve todos os seus direitos mais elementares suspensos globalmente, de tal forma que tornou-se o sujeito mundialmente inospedável, o primeiro, salvo engano, a experimentar essa condição só por ter feito algo na internet. Acrescenta mais ironia, note-se, o fato de que ele fez o mais simples que se pode fazer na rede: publicar arquivos .txt, palavras, puro texto, telegramas que ele não obteve, lembremos, de forma ilegal.

Assange é o criminoso sem crime. Ao longo dos dias que antecederam sua entrega à polícia britânica, os aparatos estatal-político-militar-jurídico dos EUA e estados satélite batiam cabeças, procurando algo de que Assange pudesse ser acusado. Se os telegramas foram vazados por outrem, se tudo o que faz o Wikileaks é publicar, se está garantido o sigilo da fonte e se os documentos são de evidente interesse público, a única punição passível, por traição, espionagem ou coisa mais leve que fosse, caberia exclusivamente a quem vazou. O Wikileaks só publica. Ele se apropria do que a digitalização torna possível, a reprodutibilidade infinita dos arquivos, e do que a internet torna possível, a circulação global da hospedagem dessas reproduções. Atuando de forma estritamente legal, ele testa o limite da liberdade de expressão da democracia moderna com a publicação de segredos desconfortáveis para o poder. Nesse teste, os EUA (Departamento de Estado, Justiça, Democratas, Republicanos, grande mídia, senso comum) deixaram claro: não se aplica a Primeira Emenda, liberdade de expressão ou coisa que o valha. Uniram-se todos, como em 2003 contra as “armas de destruição em massa” do Iraque. Foi cerco e caça geral a Assange, implacável.

Wikileaks é um relato de inédita hibridez, para o qual ainda não há gênero. Leva algo de todos: épica, ficção científica, policial, novela bizantina, tragédia, farsa e comédia, pelo menos. Quem vem acompanhando a história saberá da pitada de cada uma dessas formas literárias na sua composição. O que me chama a atenção no relato é que lhe falta a característica essencial de um desses gêneros: é um policial sem crime, uma ficção científica sem tecnologia futura, uma novela bizantina sem peregrinação, comédia sem final feliz, tragédia sem herói de estatura trágica, épica sem batalha, farsa sem a mínima graça. Kafka e Orwell, tão diferentes entre si, talvez sejam os dois melhores modelos literários para entender o Wikileaks.

Como em Kafka, o crime de Assange não é uma entidade com existência positiva, para a qual você possa apontar. Assange é um personagem que vem direto d’O Processo, romance no qual K. será sempre culpado por uma razão das mais simples: seu crime é não lembrar-se de qual foi seu crime. Essa é a fórmula genial que encontra Kafka para instalar a culpa de K. como inescapável: o processo se instala contra a memória.

O Advogado-Geral da União do governo Obama, que aceitou não levar à Justiça um núcleo que planejou ilegalmente bombardeios a populações de milhões, levou à morte centenas de milhares, torturou milhares, esse mesmo Advogado-Geral que topou esquecer-se desses singelos crimes e não processá-los, peregrinava pateticamente nos últimos dias em busca de uma lei, um farrapo de artigo em algum lugar que lhe permitisse processar Julian Assange. O melhor que conseguiram foi um apelo ao Ato de Espionagem de 1917, feito em época de guerra global declarada (coisa em que os EUA, evidentemente, não estão) e já detonado várias vezes—mais ilustremente no caso Watergate—pela Suprema Corte.

À semelhança do 1984 de Orwell, o caso Wikileaks gira em torno da vigilância global mas, como notou Umberto Eco num belo texto, ela foi transformada em rua de mão dupla. O Grande Irmão estatal o vigia, mas um geek com boas conexões nas embaixadas também pode vigiar o Grande Irmão. Essa vigilância em mão dupla é ao mesmo tempo uma demonstração do poder da internet e um lembrete amargo de quais são os seus limites. Assange segue preso, com pedido de fiança negado (embora o relato seja que o Juiz se interessou pela quantidade de gente disposta aLink interceder por ele e vai ouvir apelo) e, salvo segunda ordem, está retido no Reino Unido até o dia 14/12. A acusação que formalmente permitiu a captura é o componente farsesco do caso, numa história que vai de camisinhas furadas em sexo consensual à possíveis contatos das personagens com a CIA.

No campo dos cinco “escolhidos” para repercutir a rede anônima, não resta a menor dúvida: cabeça e tronco acima dos demais está o Guardian, que tem tomado posição, feito jornalismo de verdade, e mantém banco de dados com o texto dos telegramas. Brigando pelo segundo lugar, El país e Spiegel, com o Le Monde seguindo atrás. Acocorado abaixo de todos os demais, rastejante em dignidade e decência, o New York Times, que se acovardou outra vez quando mais era de se esperar jornalismo minimamente íntegro. A área principal da página web do jornal, na noite de 07/12, não incluía uma linha sequer sobre a captura que mobilizou as atenções de ninguém menos que o Departamento de Estado:

Enquanto isso, a entrevista coletiva de Obama acontecia com perguntas sobre o toma-lá-dá-cá das emendas entre Republicanos e Democratas, e silêncio sepulcral sobre o maior escândalo diplomático moderno dos EUA. Nada como a imprensa livre.

A publicação dos telegramas não para, evidentemente, no que é outra originalidade do caso: a não ser que você acredite que a acusação sexual na Suécia foi a razão real pela qual o aparato policial do planeta foi mobilizado para prender Assange, cabe notar que o “crime” que motivou a prisão continuará sendo praticado mesmo com o “criminoso” já capturado. O caso Wikileaks inaugura o crime que continua acontecendo já com o acusado atrás das grades: delito disseminado como entidade anônima e multitudinária na Internet. 100.000 pessoas têm os arquivos do Cablegate, proliferam sites espelho com os telegramas já tornados públicos. E a Intifada está declarada na rede, com convocatórias a ataques contra os sites que boicotaram o Wikileaks.

Atualização: e os EUA estão mesmo tentando com os britânicos e suecos a extradição de Assange para processá-lo por … espionagem!

Atualização II: No Diário Gauche, há um belo vídeo com entrevista de Assange em Oxford, com legendas e tudo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

PASSEIO CICLOTURISTICO ROTA MARCIA PRADO 2010

PASSEIO CICLOTURISTICO ROTA MARCIA PRADO 2010

Dia 18 de dezembro de 2010 acontece o segundo Passeio Cicloturistico pela Rota Márcia Prado em São Paulo. Em 2009 a rota teve como ponto inicial a estação Grajaú da CPTM, mas em 2010, a Rota estará sinalizada desde o inicio da Ciclovia da Marginal Pinheiros, junto a estação Vila Olímpia da CPTM, passando por São Bernardo do Campo, Parque da Serra do Mar, Cubatão e Santos.

Mas o que é a Rota Marcia Prado?

A Rota Marcia Prado é uma sugestão de uma rota cicloturística feita pelo Instituto CicloBR, para que as autoridades criem um meio atraente e seguro para o ciclista chegar ao litoral paulista. O percurso é inspirado no trajeto da última viagem que a ciclista Márcia Prado realizou.

Desde 2009 o Instituto CicloBR vem encabeçando negociações com vários órgãos governamentais para que essa rota seja aberta em definitivo. Atualmente o único empecilho para a viabilização da Rota Márcia Prado seria que o governo do Estado, junto com a concessionária Ecovias, criasse uma alternativa para que o ciclista que chegasse a Imigrantes tivesse um meio de acessar o Parque da Serra do Mar.

O Instituto CicloBR já apresentou diversas propostas, mas até o momento não há uma posição oficial, nem por parte do governo do estado, tão pouco da Ecovias, concessionária responsável por administrar a Rodovia dos Imigrantes. Já o Parque da Serra do Mar, responsável pela estrada de manutenção da Imigrantes, deu parecer positivo para que o ciclista passe pelo parque para chegar ao litoral.

E o que é o Passeio Cicloturístico da Rota Márcia Prado?

Em 2009, o Instituto CicloBR realizou um evento teste, sinalizando todo o trajeto, desde o Grajaú até a cidade de Santos, para demonstrar tanto a viabilidade quanto o potencial da rota. Nesse evento, mais de mil ciclistas saíram de São Paulo e chegaram ao litoral paulista pela rota.

Apesar de ser um teste, o evento em si foi muito positivo e engrandecedor, ocorrendo após o evento uma enorme cobrança para que ele fosse repetido todos os anos.

Devido a isso, o Instituto CicloBR, em assembléia geral, decidiu organizar anualmente um grande passeio cicloturístico pela Rota Márcia Prado, até mesmo quando ela finalmente for aberta em definitivo a população. Para o evento de 2010, foi escolhida a data do dia 18 de dezembro para a realização do segundo Passeio Cicloturístico pela Rota Márcia Prado.
Como será o Passeio Cicloturistico Rota Márcia Prado 2010?

Em 2009, o ponto de partida foi na Estação Grajaú. Foi realizada uma parceria com a CPTM para que os ciclistas pudessem acessar a linha esmeralda da empresa durante a manhã do dia 19/12/2009.

Em 2010 manteremos a parceria com a CPTM, portanto os ciclistas poderão ir de trem até a estação Grajaú, mas haverá também um segundo ponto de partida, que será na Ciclovia da Marginal Pinheiros, junto à estação Vila Olímpia e uma saída inaugural as 7h00 da manhã do mesmo local.

Portanto para o ciclista sair nessa massa, basta aparecer até as 7h00 da manhã no Início da Ciclovia da Marginal Pinheiros junto à estação Vila Olímpia. Lá será dada uma largada simbólica e a partir daí os ciclistas seguem pedalando, cada um no seu ritmo, por todo o trajeto da rota, apenas se guiando pelas placas com setas amarelas que estarão espalhadas por todo o trajeto.

O ciclista que não quiser ou não conseguir se juntar a essa massa, poderá acessar a rota tanto da Ciclovia como da estação Grajaú, usando ou não o sistema da CPTM. A única preocupação que o ciclista deve ter é a de chegar ao Parque da Serra do Mar até as 15h00, pois a partir desse horário, não será permitido que o ciclista acesse o parque, para que ele não corra o risco de ter que pedalar a noite.

Portanto nossa sugestão para as pessoas que estão iniciando no Cicloturismo, é que estejam as 7h00 da manhã na entrada da Ciclovia e partam com a massa, assim terão tempo suficiente para chegar ao parque, bem como em caso de problemas, poderão receber apoio tanto dos demais ciclistas como dos voluntários do CicloBR que estarão no trajeto.

Foto: Luddista

A rota pode ser percorrida por qualquer pessoa?

A Rota Márcia Prado, partindo do Grajaú tem um trajeto de 80 kms, já da Ciclovia da Marginal tem 100 kms. Apesar de haver uma grande descida, o trajeto é longo e há várias subidas, trechos em terra e tem uma dificuldade média para o Cicloturismo.

A rota é indicada para pessoas que já pedalam com certa regularidade e que não tenham nenhum problema físico. Uma boa maneira de saber se você conseguirá fazer o trajeto com tranquilidade, é realizar um pedal na cidade de cerca de 40 quilômetros em um intervalo de 3 horas. Se conseguir fazer sem grandes dificuldades, é bem provável que você esteja apto a percorrer o trajeto.

Dicas para cicloturistas iniciantes

Faça já uma revisão na sua bicicleta e principalmente nos freios, se necessário troque pois eles serão bem exigidos na descida da serra. Na entrada do Parque da Serra do Mar, voluntários do Instituto CicloBR farão uma avaliação em cada bicicleta, verificando principalmente o sistema de freios e se eles não estiverem em boas condições, não será permitido que o ciclista acesse o parque. O Ciclo Cidade, Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (http://www.ciclocidade.org.br/) gentilmente cedeu o espaço da "Mão na Roda" para que seja feita uma oficina de manutenção prévia de bikes para quem vai fazer a rota, essa oficina funciona em caráter de "faça-voce-mesmo", ou seja, voce chega lá com sua bike e voce mesmo faz a manutenção, com a ajuda de todos e pessoas mais experientes em mecanicana, sua bike ficará pronta para a viagem. A oficina ocorrerá dia 16/12 no Espaço Contra Ponto, rua Medeiros de Albuquerque, 55 Vila Madalena, veja como chegar: http://contraponto55.ato.br/como-chegar/

O trajeto é em sua maior parte em ruas asfaltadas, mas há cerca de 20 quilômetros em ruas de terra. O ideal é que a bicicleta tenha pneus híbridos, já que o trecho de terra, se não estiver chovendo, é possível ser percorrido com pneus de asfalto sem grandes problemas.

Se vai dormir no litoral e precisará levar roupas, instale um bagageiro na bicicleta e coloque sua bagagem nele. Nas costas leve no máximo uma mochila de hidratação.

Se vai voltar no mesmo dia, nossa sugestão é que volte de ônibus até o Jabaquara. Se você vier de fora da cidade, o melhor a fazer é estacionar o carro nas proximidades da estação Jabaquara e de lá seguir pedalando até a estação Vila Olímpia da CPTM. Mas não pedale pela Avenida dos Bandeirantes, use essa rota sugerida para ir até a estação.


Se hidrate muito durante a viagem e se alimente, jamais pedale com fome. Leve frutas secas, barras, gels de hidratação e até mesmo um lanche se possível. Se sentir fome pare e se alimente, jamais pedale com fome ou sede.

Em caso de dúvidas, mande um e-mail para rotamarciaprado@ciclobr.org.br pois voluntários do Instituto irão ajudar a esclarecer todas suas duvidas.

Prepare sua bicicleta e participe do Passeio Cicloturistico da Rota Márcia Prado. Este ano esperamos uma massa de dois mil ciclistas, junte-se a nós e vamos mostrar o quanto queremos essa rota para o próximo ano, você faz parte desta luta e esperamos comemorar mais essa conquista em 2011.

Fonte: Ciclo Br

O Gênesis: Idem, Ibidem

Um grande achado que achei a cara do blog!

Encontrei na melhor edição da Revista FAPESP que li até hoje. A edição n° 171, de maio de 2010 está imperdível. Tem de Machado de Assis aos arquivos do DEOPS-SP, tem também oceanografia e drenagem urbana em SP... Tá bom demais!

Dicas de leitura:

@alvarodiogo "Compartilhe suas ideias"

-----

O Gênesis: Idem, Ibidem
Vanessa Barbara

No princípio, Deus criou o céu e a terra. Foi no tempo de Sua iniciação científica, e devo dizer que o pré--projeto já parecia fadado ao fracasso. Como assim, “haja luz”? Francamente, Iaweh. Onde fica a metodologia? O referencial teórico? E a amostra de controle? Se não citar Antonio Severino, sinto muito — não me interessa se Você é o criador da ABNT.

Era evidente que o Senhor, a despeito de ser aquele que é, não havia lido a bibliografia obrigatória (GAUTAMA, 563 d.C.; VISHNU, 1254 a.C.; ALLAH, 570 d.C.; OLORUM, 1845 d.C.; e DARWIN, 1859). Se o tivesse feito, saberia que isso tudo já foi experimentado e devidamente descartado nos melhores círculos acadêmicos. Tomemos como exemplo o cronograma de trabalho, de risíveis sete dias — no último Ele ainda queria descansar às custas da Fapesp. No plano de marketing pessoal, chegou a declarar à imprensa que, ao apreciar sua obra, “viu que era bom”, ignorando assim toda e qualquer noção de objetividade inerente ao ofício.

A verdade é que o Universo foi apenas um mal-entendido no formulário de concessão de bolsas de pesquisa desta instituição. Deus, que é obviamente um iniciante, achou que precisava de toda essa parafernália planetária para criar um “universo significativo de amostragem”. E deu no que deu. Hoje ele tem claras dificuldades para manejar seus experimentos com um bilhão de chineses, sobretudo quando se trata de testes duplo-cegos — fica difícil driblar a onisciência.

No segundo dia, o Todo-Poderoso disse: “Que a terra verdeje de verdura”, e foi muito engraçado. No terceiro dia, fez os dois luzeiros maiores: o grande luzeiro como poder do dia e o pequeno luzeiro como poder da noite. Na quinta-feira, fervilhou a água de seres vivos e aproveitou para passar um café. Dali a pouco foi a vez de moldar os animais terrestres (ref. hipopótamo). No sexto dia, o que era pra ser uma pesquisa inútil, porém inofensiva, tornou-se um pesadelo para as agências governamentais que a financiavam. Deus criou o homem à sua imagem e, não contente, removeu uma costela do ser mencionado e a mergulhou, só por diversão, num amontoado de lama — exatamente como fez aquele sujeito com a orelha no lombo do rato. Então soprou. Sabe-se lá por que, o experimento deu certo: dali saiu uma mulher, instruída para ser fecunda, multiplicar-se e subjugar os outros animais que rastejam sobre a terra.

A seguir, passou a redigir o relatório de sua monografia, que começava assim porque Deus é prolixo: “Adotaremos o método intrínseco, estético e hermenêutico em sentido restrito (existencial-ontológico) e em sentido amplo (de interpretação inespecífica), partindo da exegese textual para a conclusão sobre o todo do Universo, método que se ajudará com o retórico-estilístico e o comparativista, todos se relacionando com o psicológico, o social e o histórico-cultural”. Percebam a utilização do plural majestático, que nesse caso é plenamente adequada. Além disso, vê-se que o Magnânimo estava confuso em todos os sentidos (tanto ontológicos quanto sintáticos). Há limites para a onipotência, e eles são as normas regulamentares para a apresentação de monografias.

Em todo caso, a hipótese inicial do Alfa/Ômega era simples: “Não vai dar certo”, escreveu, citando AVICENA, 1033 (que tentou transformar pão em ouro), e os partidários da busca pelo moto-perpétuo. A título de curiosidade, o Criador inseriu uma variante maléfica na redoma de testes: a serpente. O resultado dessa empreitada empírica pode ser resumido na seguinte resposta, transcrita pelo próprio Velho a partir de uma entrevista qualitativa com foco em história oral: “Não sei onde está Abel. Acaso sou guarda de meu irmão?”.

Abandonou-se, com isso, toda e qualquer metodologia razoável. Resignado, Ele decidiu radicalizar em nome da ciên­cia. Ora, apesar do que dizem, o Deus do Velho Testamento não é vingativo; é apenas um camarada curioso e interessado em estripulias empíricas. Planejou o dilúvio, por exemplo, para ver no que dava. Mandou um sujeito matar o próprio filho num teste de psicologia comportamental. Inventou um experimento quantitativo com nuvens de gafanhotos e mais meia dúzia de pragas que assustaram o faraó a valer. Enfim, fez o que bem queria, movido pela sede de saber.

Uma de suas maiores cobaias foi Jó, um mero aluno da graduação que sempre fora íntegro e reto, temia a Ele e se afastava do mal. O teste começou como um estudo sério, mas logo descambou para uma aposta inconsequente entre o Longânimo e um certo pesquisador diabólico. Visto que a vida de Jó era perfeita, o tal pesquisador disse ao Senhor que assim era fácil ter um assistente, e duvidou que Jó continuasse fiel caso caísse em desgraça. Seguro de sua popularidade, Deus deu carta branca ao rival para fazer o que quisesse com o pobre rapaz, que, aliás, nada tinha nada a ver com isso — leu toda a bibliografia optativa, cursou as aulas de estatística, sabia redigir os formulários etc. Aquilo não era justo. Pois o Tinhoso matou-lhe todos os bois, os servos, os camelos e os filhos, provocou um incêndio, cravou-o de feridas e ficou esperando. Jó hesitou, mas no final se manteve leal ao mestre, que aproveitou a ocasião para pedir-lhe um fichamento.

A história não seria tão trágica se Deus fosse uma entidade menos avoada. Enquanto escrevia a monografia propriamente dita, deixou seus objetos de pesquisa fugirem do controle. Em poucos milênios, enquanto Ele estava distraído, um camarada atacou o outro com um atum congelado, uma velhinha decidiu viver com onze cisnes em seu apartamento de 25 metros quadrados, uma universidade criou a disciplina “História do Cocô” e um glutão tentou comer o próprio peso em pipocas. Quando Deus terminou de escrever o Abstract, por fim, ergueu sua Santa cabeça e viu que estava tudo fora dos eixos. Havia demorado muitas eras para entender os padrões de citação bibliográfica relativos a verbetes de enciclopédia — também tinha certa dificuldade em ordenar alfabeticamente os autores SCHWARCZ, SCHARZ e SCHNITZLER. Lá embaixo, o caos reinava, livre de qualquer tentativa de controle científico.

Foi quando Ele teve uma grande ideia que lhe garantiu o ingresso no Doutorado e salvou (literalmente) a humanidade. Rascunhou o último capítulo de sua tese, intitulado: “O Apocalipse”, ou “A vindima das nações”. O objetivo era dar prosseguimento aos estudos de PESTE, 666; FOME, 2012; GUERRA, 2012; e MAGOG et al., 2082, pondo fim ao ciclo experimental sem, no entanto, cair no pessimismo. Aparentemente orientado pelo pesquisador citado na história acima (BESTA, 2012), ele redigiu: “Ficarão de fora [do céu] os cães, os mágicos, os impudicos, os homicidas, os idólatras e todos os que amam ou praticam a mentira”.

Foi assim que, com cavalos, trombetas e a danação eterna dos pobres mágicos, Deus fechou em grande estilo sua pesquisa “Criação do Mundo — Aspectos Pitorescos da Trajetória do Ser Humano sob a Ótica do Senhor de Todos os Exércitos”. Ganhou um glorioso dez — glorioso mesmo.

Vanessa Barbara é jornalista e escritora, autora de O livro amarelo do terminal e, em coautoria com Emilio Fraia, O verão do Chibo. Colabora com a revista piauí e edita o almanaque virtual A Hortaliça.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Instituto Sangari promove megaexposição Água na Oca

Instituto Sangari promove megaexposição Água na Oca

Mostra feita em parceria com o Museu de História Natural de Nova York ocorre no Parque Ibirapuera a partir de 26 de novembro

A água é elemento essencial à vida no nosso planeta. Mais de 70% da Terra é água, em suas mais diversas formas e estados. Salgada e doce, líquida e sólida. Por decisão da natureza, o Brasil ficou com o maior manancial de água doce do planeta, um privilégio que justifica a realização de uma megaexposição sobre ela no País, a Água na Oca. O evento será aberto no dia 26 de novembro (sexta-feira) e vai durar quase seis meses, até 8 de maio de 2011, ocupando os 8 mil m² de área do pavilhão da Oca, no Parque Ibirapuera.

Idealizada e realizada pelo Instituto Sangari, em parceria com o Museu de História Natural de Nova York, Água na Oca é uma exposição concebida no Brasil e para o Brasil, segundo o curador Marcello Dantas. "Fazer uma exposição sobre a água é como montar uma exposição sobre a vida, um assunto igualmente grandioso e infindável. Eleger a abordagem diante da amplitude do tema é a essência desse projeto", afirma o curador.

A exposição é dividida por temas, ocupando cada um dos pavilhões da Oca. No térreo, a mostra trará as relações entre a água, a vida e o planeta. Também nessa área haverá aquários com mais de 60 espécies de peixes e uma abordagem sobre a ameaça das pescas predatórias. As janelas redondas da Oca terão imagens em computação gráfica com as espécies da zona abissal dos oceanos.

No primeiro andar da Oca o tema será a fúria das enchentes e suas conseqüências. Nessa área também haverá exibição de controle de qualidade da água e seu uso racional. O subsolo da Oca terá obras de arte relacionadas à água, com cinco trabalhos de artistas brasileiros. Uma parceria com o Instituto Goethe irá permitir a exibição de vídeos de artistas internacionais em cujas obras a água seja a protagonista.

Com mais esse megaevento, o Instituto Sangari cumpre uma nova e importante etapa em sua missão de levar ao público em geral a perspectiva da cultura científica como elemento de formação da cidadania e do capital humano. Braço social e cultural da Sangari, o Instituto é responsável por outras grandes mostras, como Revolução Genômica, Darwin e Einstein, que foram vistas por mais de um milhão de pessoas, sendo 450 mil estudantes, em São Paulo, Rio de Janeiro, Petrópolis, Brasília, Goiânia, Curitiba e Vitória.


Mais informações podem ser obtidas no site da mostra: www.aguanaoca.com.br

SERVIÇO:

Água na Oca
De 26 de novembro de 2010 a 8 de maio de 2011
Pavilhão Lucas Nogueira Garcez Oca
Av. Pedro Álvares Cabral, S/N Portão 03, Parque Ibirapuera, São Paulo

Ingressos
- Inteira: R$ 20,00
- Estudantes e professores com comprovantes: R$ 10,00 (meia-entrada)
- Menores de 7 e maiores de 60 anos com documento não pagam
- No último domingo de cada mês a entrada é gratuita para todos os visitantes

Recomendações
- Permitido tocar apenas em obras interativas
- Permitido fotografar apenas sem o uso de flash
- Não é permitido transitar pela exposição com alimentos e bebidas
- Não é permitido entrar com mochilas e volumes
- Visitas guiadas são permitidas apenas com monitores da exposição

Agendamento para escolas
- Diverte Cultural: 11 3883-9090 / exposicao@divertecultural.com.br
- Escolas particulares agendadas: R$ 15 por aluno
- Escolas públicas agendadas estão isentas

Horários
- Terças, quartas e sextas-feiras: das 9h às 18h (bilheteria até as 17h)
- Quintas-feiras: das 9h às 21h (bilheteria até as 20h)
- Sábados, domingos e feriados: das 10h às 20h (bilheteria até as 19h)
- Não abre às segundas-feiras e excepcionalmente nos dias 24, 25 e 31 de dezembro de 2010 e em 1º de janeiro de 2011.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A crise no Rio e o pastiche midiático

O assunto dos últimos dias é a violência no Rio de Janeiro.

Li muitos textos sobre o assunto e o que preparei para compartilhar é este que recebi via e-mail, postado originalmente aqui.

É bem extenso, mas vale a pena a leitura. Para ajudar na digestão deixo também uma música do Rappa para apreciação.



Boa leitura!

@alvarodiogo "Compartilhe suas ideias"
http://www.ideianossa.blogspot.com/

-----

A crise no Rio e o pastiche midiático
Autor: Luiz Eduardo Soares*

Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Emalguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando asdivergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases deum consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço-o por ética– supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu -, na esperançade que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor. Além disso, meesforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão,exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa seintensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, dasegurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestãopública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamostanto –ou sob tanta pressão – quanto os jornalistas.
Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convitespara falar e colaborar com a mídia:

(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas sãocontínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular.Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas oudeclarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria comoresponder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito aoportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia oudesapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.

(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação.Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade queconstruí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecerna TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estãosendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno depreconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muitograve e não admite leviandades.
Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficazpara o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Comofazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções delocutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamentoanalítico é editado, truncado, espremido – em uma palavra, banido -, paraque reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, asimagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmentetriunfalista do discurso oficial?

(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia:atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo einformativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nosintervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) Oque fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O quea polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?(c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional doRio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e asOlimpíadas?

Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudarama legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu,tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de umaperspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessasreportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regrasjornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Poisbem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse códigojornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratadoé complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo deexplicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta asvisões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a sercúmplice involuntário de sua contínua reprodução.
Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modeloexplicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos aoconhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudançasinadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistadorexigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me doexpediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador dasquestões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:

O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafioda insegurança?

Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quandose está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentosconhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, defato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar opaciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal,apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, dedesespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia eassepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, nocorredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nempara formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotarprocedimentos que evitem o agravamento da patologia.
Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar apergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado poroutra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio eno Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como suaintensificação, expressa nas sucessivas crises?
Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que asociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e nãoaceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, amelhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, apostura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se asociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordaro problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional arequerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando,enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longoprazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quaisnão há soluções mágicas.
A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção dareconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto aoimediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido,que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos eprolongando-se a vida em risco. A pergunta é obtusa e obscurantista,cúmplice da ignorância e da apatia.

O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, otráfico de drogas?

Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aostraficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia,diante de todos.
Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podresfazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior dotráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios epopulações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos pormeios cruéis.
Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) escondeo verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la – isto é,separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia – teria de ser a metamais importante e urgente de qualquer política de segurança digna dessenome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de quesegmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que aindaexiste tráfico armado, assim como as milícias.
Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo.Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados ehonestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por saláriosindignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional emcurso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívioinevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade,sócios ou mesmo empreendedores do crime.
Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidadeem franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidadeeconômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociaispredominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competircom as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender,exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelodo tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado,antieconômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos,armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros sãopoliciais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todotipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com abanda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com oslíderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre umterritório e uma população, sobretudo na medida em que os jovens maisvulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas.Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens poroutro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticosmais avançados: a venda por *delivery *ou em dinâmica varejista nômade,clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor,mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fossecontrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muitomenos danoso para a sociedade, por óbvio.

O Exército deveria participar?

Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinadopara isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começarcumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Issoresolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente,de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre daspolícias.
E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com focono controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas nabaía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindopistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF nafiscalização das cargas nos aeroportos.

A imagem internacional do Rio foi maculada? Claro. Mais uma vez.

Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas? Sem dúvida. Somosótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espíritocooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar deAquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia adia.

Palavras Finais

Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento,mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outrosmomentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. Enão porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modeloinsustentável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs,vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoiopolítico e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, queimplantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com“p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sidoressuscitado, graças à liderança e à competência raras do Ten. Cel. CarballoBlanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minhasaída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença deRicardo Henriques na secretaria estadual de assistência social – um dosmelhores gestores do país -, elas não terão futuro se as polícias não foremprofundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terãode incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ouseja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM.
Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação,dada a degradação institucional já referida.
O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, noRio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porquesempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico dedrogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão ecomeça, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios – as bandas podresdas polícias – prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamenteambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianasde sua hegemonia.
Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versustráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos epor que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estasdeixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas,crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituiçõespoliciais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados equalificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de serreativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?
As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estadodemocrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e asliberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger avida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente àsociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. Adespeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas emprofundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram,adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. Omodelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estadoautoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve àdefesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impedea gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e aavaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas paraidentificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidasonde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas eanárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a PolíciaCivil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados enão-delegados.
E nesse quadro, a PEC 300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores,que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundoemprego na segurança privada informal e ilegal.
Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino“gato orçamentário”, esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade:para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, asautoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo,deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há gravesproblemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscamsobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mastambém dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam ainsegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo emgrupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias,dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo(pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informale ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não fazsentido buscar aprimorar as polícias.
O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio deJaneiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como umdia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro.Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz eincorrigível ou os editores do
JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores comocontumazes e incorrigíveis idiotas. Ou se começa a falar sério e levar asério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos maisdigno furtar-se a fazer coro à farsa.

*Luiz Eduardo Soares é Mestre em Antropologia, doutor em ciência política com pós-doutorado em filosofia política. Foi secretário nacional de segurança pública (2003) e coordenador de segurança, justiça e cidadania do Estado do RJ(1999/março 2000). Colaborou com o governo municipal de Porto Alegre, demarço a dezembro de 2001, como consultor responsável pela formulação de umapolítica municipal de segurança. De 2007 a 2009, foi secretário municipal devalorização da vida e prevenção da violência de Nova Iguaçu (RJ). Em 2000, foi pesquisador visitante do Vera Institute of Justice de Nova York e daColumbia University. Co-autor de “Elite da Tropa” e “Elite da Tropa 2″,autor de “Meu Casaco de General” e “Espírito Santo”.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

29° Bienal

Neste último sábado, dia 27, fui visitar a 29° Bienal no Parque Ibirapuera para repor aula de "Relações Interpessoais"

Uma visita interessante, um pouco às pressas, pois precisava terminar projeto de drenagem, além de fazer lista de exercícios de hidrologia e estudar para estruturas... final de semestre, sabe como é?

As obras selecionadas poderiam levar mais a reflexão... Obras com temas sociais, políticos, ambientais e econômicos me agradariam mais do que a subjetividade mais que subjetiva da maioria ali encontradas.

Sobre qualidades dessa mostra considero a proposta de colocar em discussão a pichação como arte muito interessante. Como a manifestação Pixação SP fez.

Sobre pontos negativos cito o fato de algumas obras utilizarem animais para o entretenimento do público, como o caso dos urubus (texto abaixo) e a obra Javavoa onde um animal empalhado foi utilizado.

Compartilho um texto sobre a exploração dos animais em exposições de arte e algumas informações da minha obra preferida, que aborda a importância de se investir no básico da alimentação, arroz e feijão, ao invés de vastos campos para plantação de grãos que servirão para a criação de gado, onde neste processo o desperidício reina, e do quilo da carne muito mais poderia ser produzido de arroz e feijão para saciar a fome... Confira este infográfico da SVB:


Dicas de leitura:

@alvarodiogo "Compartilhe suas ideias"

-----

A legalização da exploração de animais em exposições de arte precisa acabar

Esta semana uma das histórias que acenderam o debate na arena dos direitos animais foi a presença de três urubus em uma instalação da Bienal de São Paulo feita por Nuno Ramos. Os urubus ficam confinados em um viveiro grande com música alta e obviamente objetificados como meros elementos de cena em um projeto de alguém completamente irrelevante para eles.
Em uma entrevista ao programa de TV do Jô Soares, Nuno disse que demorou dois anos até encontrar as aves, já que elas são protegidas por lei. Ele finalmente se deparou com um treinador de falcões em Sergipe que criava os urubus e, como eles nasceram em ‘cativeiro’, o Ibama deu licença para o uso dos animais. Ou seja, Nuno efetivamente procurou um buraco na lei para poder levar a cabo seu projeto.
Em relação a esse detalhe técnico, está na hora de o Ibama parar com esse legalismo e se dar conta de que o problema não é se o animal nasceu em cativeiro ou não. Para eles isso é irrelevante. O problema é explorar animais, ponto final. Animais não são coisas que podem ser postas a serviço da vaidade de uma pessoa, independente do suposto ‘bem-estar’ pelo qual a organização diz zelar. Como o Ibama pretende acabar com o tráfico de animais enquanto apoia a exploração destes é um mistério para mim.
A instalação tem o nome de ‘Bandeira Branca’ e fica no vão central do prédio da Bienal. A maior parte, inclusive telas, é feita com material escuro, e os animais convivem permanentemente com o som de músicas como ‘Carcará’, ‘Bandeira Branca’ e ‘Acalanto’, com muitos alto-falantes instalados em caixas de vidro.
Não é a primeira vez que Nuno Ramos explora animais em benefício próprio. Em 2006, ele usou burros em uma instalação onde os animais eram obrigados a portar grandes caixas acústicas amarradas no seu lombo. A instalação foi exibida no Instituto Tomie Ohtake.
Ativistas já se mobilizaram e estão protestando contra mais esse caso de arrogância e falta de ética. A questão aqui não é censura. O artista tem o direito de fazer o que quer, se expressar livremente, mas com certeza ele não tem direito de causar sofrimento e reforçar a opressão. Imagine se para tratar de um tema como o estupro de mulheres, digamos, o artista tenha que reproduzir uma cena real em sua instalação ou filme? Animais podem ser usados na arte, desde que como representação e não forçados a participar de algo que para eles não tem significado algum.
A legislação ambiental, inclusive a Lei de Crimes Ambientais, em seu Art. 32 criminaliza quem pratica abusos, maus-tratos, fere ou mutila animais.
“Os animais evidentemente não estão em situação de bem-estar, não têm liberdade nem para se esconder e se alimentar. Essas aves, na natureza, recolhem-se ao final da tarde. A arte, a meu ver, não pode ser cega para o sofrimento e os incômodos causados a qualquer forma de vida”, disse o vereador Roberto Trípoli.
Criticar obras de arte baseadas no sofrimento de animais não é um ato de repressão e censura, como alguns detratores podem querer alegar. Um artista, por mais iconoclasta ou rebelde que seja, jamais cogitaria a possibilidade de explorar um ser humano em uma instalação. Se ele considera a possibilidade de explorar um animal como algo aceitável, é porque ele não tem a capacidade de analisar seu próprio preconceito contra outras espécies; ele não consegue transpor sua própria atitude antropocêntrica. Ou seja, por trás de um verniz de vanguarda, ele na verdade é um conservador.
Em tempo: no Rio de Janeiro o uso de periquitos em uma instalação na artista Rosana Palazyan na casa França-Brasil, onde os animais seriam usados para ler a sorte dos visitantes, foi proibida pela Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais com base na lei 3.402 de 22 de maio de 2002. Mais uma vez o Ibama havia dado autorização para essa exploração dos animais, mas felizmente o bom senso prevaleceu. Esperamos que o mesmo aconteça no caso dos urubus da Bienal.

Arroz e Feijão

Anna Maria Maiolino migrou da Itália no pós-guerra e construiu sua carreira em países da América Latina, fixando-se no Brasil em 1960. Em experimentos ora matéricos – como a cerâmica, a pintura e a gravura –, ora documentais – como o vídeo e a fotografia –, a artista desenvolveu um observatório das formas sensíveis, de como a vida acontece e, a despeito dos riscos e adversidades, perdura. Os Fotopoemações, que Maiolino elabora processualmente ao longo dos anos, tomam imagens como sínteses de gestos poéticos e as mantêm abertas como um convite à autopercepção e à experiência do espectador. Solitário ou paciência confirma este convite através da disposição de uma mesinha do jogo de cartas individual no meio da exposição. Em Arroz e feijão, instalação feita durante a ditadura militar brasileira e poucas vezes remontada desde a volta do regime democrático, brotam sementes de arroz e feijão em pratos de louça servidos sobre uma longa e sombria mesa negra. Num monitor de vídeo, ao fim daquele ambiente sacralizado, semelhante a um altar, uma boca mastiga a comida que a artista toma como símbolo de morte e vida, tradição e renascimento, em uma sempre pulsante antropofagia cultural.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...