Texto: Luciana Bender/ Foto: Divulgação
Sou jornalista por profissão e vendedora por profissão. Atualmente trabalho em uma livraria e, como era de se esperar, constantemente nós, vendedores, conversamos sobre lançamentos e best-sellers. O livro Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, já passou no cinema na Mostra Internacional de São Paulo em uma premiada adaptação que novamente aparece em algumas telinhas do país, e agora ocupa minhas horas vagas.
A princípio o que mais me atraiu foi o belo título dessa obra, que mais parece um verso daqueles poemas românticos. O texto de Marçal Aquino foi uma indicação de um colega de trabalho que teceu muitos elogios a narrativa. Cheguei a duvidar da beleza desse livro, mas a linguagem, com cara de jornalismo literário, conquistou-me, assim como Lavínia fez com Cauby, personagens principais dessa história.
A paixão pulsa em cada linha, o tesão pode ser sentido em cada carícia trocada pelo casal que vive um amor proibido. As múltiplas personalidades de Lavínia revelam a instabilidade da situação e a ambigüidade vivida pelos personagens.
A trama é narrada em uma pequena cidade do Pará que só serve para aumentar o clima de perigo que envolve esse casal clandestino.
O livro que me conquistou a cada página termina com a incerteza que permeou toda a história, mas também cheia da mesma esperança que os uniu.
Como de praxe, finalizo com um trecho da trama:
“Ela me abraçou e encostou a cabeça em meu peito, bem em cima do meu coração atropelado. E falou apertando as minhas costas:
Entra em mim.
Olhei para a porta do quarto: lá dentro nos esperavam os lençóis enrugados da cama arrumada com pressa e imperícia. Lavínia notou que eu olhava para o quarto e abriu meu cinto. Sussurrou:
Aqui.
Foi igual adentrar um território sabendo que ele tem dono: com curiosidade e medo. Uma invasão. Lavínia livrou-se das sandálias e deixou que eu a despisse. Depois, tirou as minhas roupas. E acabamos no chão, sobre o tapete. Ela por cima.
Antes de mais nada, porém, o inferno das nossas obsessões. Ela levantou-se e me olhou de um jeito estranho. Achei que tinha mordido seu lábio com furor excessivo. Não era isso: Lavínia tirou a aliança e jogou dentro da bolsa. Disse:
Um pouco de decência não faz mal a ninguém.” (p. 38)