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"A água é para os escolhidos
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Ladrões de sol, crise hídrica e êxodo rural

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

9 causas da tragédia e o que fazer para evitar sua repetição

9 causas da tragédia e o que fazer para evitar sua repetição
Por: Aline Ribeiro, Maurício Meireles e Leopoldo Mateus
Época - 17/01/2011

Especialistas apontam os fatores que contribuíram para ampliar as
proporções do desastre e as ações preventivas que precisam ser
adotadas com urgência

1. O que transformou uma chuva comum no verão em uma catástrofe?
Um acúmulo de umidade ronda os morros da região serrana do Rio de
Janeiro. Seu nome: Zona de Convergência do Atlântico Sul. É uma
concentração de nuvens que sai do sul da Amazônia, passa pelo
Centro-Oeste, chega ao Sudeste e se move para o oceano. Ela ocorre nos
meses quentes, entre outubro e março, e ajuda a formar a umidade dos
verões. “Uma das principais características desse fenômeno é a longa
permanência”, afirma Gustavo Escobar, coordenador do grupo de previsão
de tempo do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC).
“Ele chega a ficar até cinco dias em uma mesma região.” Na semana
passada, o fenômeno provocou um volume de chuva anormal. Num período
de 24 horas, entre a terça e a quarta-feira, 182,8 milímetros de água
caíram sobre Nova Friburgo – quase o total esperado para janeiro. E um
volume de 124,6 milímetros castigou Teresópolis. Petrópolis não tem
estação de medição. O volume de chuvas na região durante a madrugada
da quarta-feira só perde para um recorde registrado há 45 anos. “Áreas
que não seriam tecnicamente mapeadas como sendo de risco foram
totalmente destruídas pela força das águas”, afirma Luiz Firmino,
presidente do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea).
“Houve escorregamentos de terra até em áreas intactas do Parque dos
Três Picos, semelhantes ao que aconteceu com a pousada Sankay, no ano
passado, na Ilha Grande.”

2. Como as características do solo influenciaram o desastre?
A explicação para a tragédia não se restringe apenas à quantidade de
chuvas ou à geografia dos morros. Ela remonta à ocupação das áreas
urbanas no Brasil. Durante a formação das cidades, pouco se respeitou
o funcionamento natural do solo. As margens dos rios, responsáveis
pela absorção da chuva, foram cimentadas. Os rios que corriam sinuosos
viraram canais retos, pistas de corrida para as águas deslizarem com
velocidade. Na região serrana, muitas construções recortam as encostas
dos morros. Sem floresta nativa para fixar a terra às camadas de
rocha, o solo fica mais frágil. Quando vem a chuva, ele não consegue
absorver a água e arma a avalanche. “A região da Serra do Mar não é
para ser ocupada”, afirma o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos,
ex-diretor de planejamento e gestão do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT). “Mas as ocupações continuam aumentando sem nenhum
rigor técnico.”

Durante as últimas chuvas, a região serrana do Rio registrou um
fenômeno parecido com o ocorrido em Angra dos Reis, mas com uma
sutileza – além dos deslizamentos, houve o que os especialistas chamam
de corrida de lama. A água arrastou detritos das montanhas para os
rios dos fundos dos vales. O que eram pequenos riachos se
transformaram subitamente em rios caudalosos que arrastaram o que
havia pela frente. Em Petrópolis, o Rio Santo Antônio subiu quase 6
metros. A velocidade das águas chegou a 80 quilômetros por hora. “A
tromba-d’água de uma corrida de lama forma uma avalanche com poder de
destruição tremendo”, diz Santos.

3. Um sistema de alertas mais eficaz teria poupado vidas?
Das cidades serranas atingidas, apenas Nova Friburgo conta com um
sistema de medição pluviométrica capaz de pôr em alerta a Defesa
Civil. Ainda assim, o alarme só foi disparado quando os rios já
estavam transbordando e não havia tempo de evacuar a população em área
de risco. Mesmo zonas consideradas seguras, como o centro da cidade,
viraram cenário de destruição, como se tivessem passado por um
terremoto. “Famílias que vivem ali há um século jamais tinham
testemunhado coisa parecida”, diz Luiz Firmino. Para evitar futuras
tragédias, é preciso contar com um sistema que, além de prever, possa
avisar as pessoas para deixar áreas de risco a tempo. O Japão tem uma
tecnologia que detecta tremores e lança alertas contra terremotos. O
aviso chega aos meios de comunicação até 20 segundos antes do abalo.
Pode parecer pouco, mas é essencial para que as pessoas consigam se
proteger e evitar danos maiores. Os Estados Unidos têm um sistema de
previsão e alertas há 200 anos. Hoje, um site avisa a população das
cidades sobre nevascas, furacões e outros riscos com até quatro dias
de antecedência. “Por causa das mudanças climáticas, a volatilidade do
clima está muito maior”, diz Carlos Nobre, chefe de Ciência Terrestre
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Uma das
consequências é a concentração de águas em um período do ano. Se fosse
mais espaçado ao longo do tempo, não causaria tragédias. Por isso é
importante contar com um sistema de alerta eficiente.” Desde o dia 28,
o órgão conta com um supercomputador para aumentar a precisão das
previsões. Custou R$ 50 milhões e espera-se que ajude a prever com
mais eficácia os grandes temporais.

4. Os estragos seriam menores se não houvesse desmatamento nas encostas?
Solos montanhosos já são especialmente vulneráveis, mas, quando
existem florestas conservadas, as encostas ficam mais protegidas pela
vegetação. Em áreas de escarpas rochosas e solo muito fino, é difícil
impedir o estrago. A água encharca o solo e faz com que ele deslize
sobre a rocha, montanha abaixo, na forma de lama. No vale, a falta de
drenagem, que já é um problema em circunstâncias normais,
transforma-se em pesadelo com a descida repentina da lama e das águas.
O potencial de destruição é enorme.

5. Como conter a ocupação irregular do solo?
Muitas casas são construídas sem levar em conta a vulnerabilidade do
espaço. Por causa da pobreza e da deficiência do sistema de
transporte, muitos se sujeitam a morar em áreas de risco. Essas
ocupações costumam remover a cobertura vegetal do terreno e bloquear
os canais por onde a água escorre. Sem falar na ocupação das planícies
às margens de rios, áreas proibidas para construções por inundarem
facilmente. Os moradores dessas áreas são as primeiras vítimas das
chuvas. “Uma solução é as empresas terem responsabilidade social”, diz
Willy Lacerda, engenheiro geotécnico da Coppe/UFRJ. “Elas deveriam
investir em moradias em áreas adequadas para seus funcionários quando
se instalam numa certa região.”

6. Há como evitar novas tragédias mesmo sem remover as pessoas que
vivem na região?
As chuvas fortes (e devastadoras) de verão não vão deixar de
acontecer. Elas fazem parte do ciclo natural do clima – e, com o
aquecimento global, deverão ficar ainda mais intensas. A cidade do Rio
de Janeiro já começou a se mexer para evitar catástrofes. A Fundação
Instituto de Geotécnica (Geo-Rio) terminou no final do ano passado um
mapeamento dos imóveis em situação de risco da cidade. É um
levantamento inédito. As autoridades agora sabem onde está cada uma
das 21 mil casas em solos frágeis passíveis de desabar. É o primeiro
passo para agir. A cidade também comprou um radar capaz de prever
tempestades com antecedência de uma hora. O tempo é curto, mas pode
ser suficiente para os moradores de áreas de risco deixarem suas
casas. Orçado em R$ 2,5 milhões, o equipamento vai servir a região
metropolitana do Rio. O Estado ainda não tem nada parecido.

O governo do Estado também quer fazer um mapa das áreas de risco. Até
agora, só seis cidades do Estado têm um levantamento do tipo (Nova
Friburgo, Petrópolis e Teresópolis estão nessa lista). O Serviço
Geológico do Estado do Rio de Janeiro quer ampliar esse número em mais
30 municípios. O trabalho vai custar cerca de R$ 3 milhões. “Até o
final do governo, a ideia é cobrir as 92 cidades do Rio”, diz Flavio
Erthal, presidente do Serviço Geológico. “Temos um passivo imenso.
Precisamos de uma estratégia rápida de enfrentamento.”

7. É justo culpar as prefeituras?
A maioria das prefeituras tem mapas de risco, mas o método com que
esses mapas são produzidos é contestado por especialistas. Os cálculos
são feitos com base em dados incompletos e desatualizados. Caso esses
mapas fossem mais precisos e as pessoas fossem retiradas das áreas de
risco, tragédias como a da semana passada poderiam ser evitadas. “É só
ver o tamanho do desastre e constatar que é impossível que um mapa de
diagnóstico decente não tenha observado fatores de riscos tão óbvios
nessas regiões”, diz Ana Luiza Coelho Netto, pesquisadora do Instituto
de Geociências da UFRJ.

8. Qual é a responsabilidade do governo federal?
As verbas federais precisam chegar aos municípios. No ano passado, o
Ministério da Integração só repassou 39% dos recursos disponíveis para
prever e evitar desastres naturais para as prefeituras. Uma parte
desse valor serviu para pagamento de dívidas de anos anteriores e não
para a realização de obras. O Rio de Janeiro recebeu 0,6% dessas
verbas, que foram repassadas só para três municípios. Além disso,
dados do Sistema Integrado de Gestão Financeira do Governo (Siafi)
mostram que a União não repassou os R$ 21,7 milhões previstos para
obras de drenagem. “Dependemos de vontade política. Existem
tecnologia, recursos humanos, metodologia e técnicos para realizar o
trabalho, mas a vontade ainda não chegou à área de prevenção”, afirma
Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de riscos da Coppe/UFRJ.

9. Até que ponto as mudanças climáticas têm culpa na tragédia?
Os cientistas ainda não são categóricos ao relacionar as mudanças
climáticas às catástrofes isoladas (como a da região serrana do Rio).
Segundo eles, é preciso um período de 30 anos de eventos extremos para
avaliar se há, de fato, alguma relação com o aquecimento do planeta. A
despeito do conservadorismo, os especialistas do clima já dizem que as
estiagens prolongadas e as chuvas severas vão ser mais frequentes e
intensas. A partir de 2030, as elevações de temperatura causarão
indiretamente cerca de 1 milhão de mortes por ano, segundo um estudo
apresentado na Conferência do Clima, em dezembro, em Cancún, no
México. O prejuízo ficaria em torno de US$ 157 bilhões.

“Já sabemos que não vai levar mais tanto tempo para acontecer outra
tragédia como essa”, afirma o economista Sérgio Bessermam Vianna,
especialista em adaptação de grandes cidades às mudanças climáticas.
“É obrigatório mapear as áreas mais frágeis e proteger as populações
vulneráveis.”

2 comentários:

A!Z * fonda disse...

Reforma Agraria do Verão, nao tem terra, mas tem chuva a doidado, brincadeira, mas ano que vem e ao decorrer dos anos tem mais chuvas e mortes?

Só o tempo dira?
Humanos vao se concientizar?
Sera que a ideia é essa, estudar e viver?

Sera? que vai chover hoje, novas ideias?

E dizem que isso aconteçe no mundo todo né, menos aqui na minha casa, poxa,a casa do meu vizinho acabou de cair...

Sera que vai chover hoje?
ai que calor, podia chover um pouco né, mas nao temporal, a esqueçi, sempre chove pouco, mas a terra encharcada e asfalto, cimento, transito e bla bla, meu deus, será que somos jovens assim?!

*desculpem alguns erros...

Álvaro Diogo disse...

Seus comentários poéticos são fantásticos e muito bem vindos por aqui, Fonda!

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