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sábado, 4 de julho de 2009

A Teoria Gaia e a Gestalt

Um dos nossos mais importantes colaboradores e ao mesmo tempo a pessoa mais ausente em palavras aqui no blog me enviou esses dias um texto muito interessante que resolvi postar para vocês. Agradeçam ao nosso querido amigo Superior.
Esse texto discorre sobre a teoria gaia, vale a pena conferir, e ele aborda um tema que muitos anti-humanistas se colocariam contra, que é a questão do ser humano ser o cérebro do planeta e não como o câncer, como muitas vezes é colocado.
Sou defensor da causa animal, mas de forma geral, defendo também o ser humano, que por mais danoso que seja ao ambiente em que vive, é o único que pode ter ciência de tal dano e reverter, educar, lutar por melhorias. Encarar o ser humano como câncer do mundo e combatê-lo afirmando que seria melhor não existirmos não é o melhor argumento, já que a natureza não faz nada em vão, e se estamos aqui é porque universo a fora o único local que proporcion condições ideais é a Terra. Estamos sim passando por uma crise global, e muitos de nossos "neurônios" estão desnorteados...
Bom, o foco do texto não é esse, então não vou atrapalhar a leitura de vocês, e mais pra frente entramos nessa discussão.
Abraços e boa leitura!

Álvaro Diogo

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A Teoria Gaia e a Gestalt

Por Luís Lira

A percepção de que o planeta Terra, com idade de 5 bilhões de anos é um ser vivo, pode ser um instrumento importante para a materialização da relação organismo/meio ambiente da Terapia Gestalt¹

A teoria Gaia, do cientista inglês James Lovelock, afirma que "a Vida e a Terra evoluem juntas, excluindo o paradigma da visão científica convencional, aonde reina o apartheid entre os vários campos das disciplinas ambientais". A proposta dessa nova-antiga visão é fazer uma síntese das contribuições da geologia, geoquímica, biologia evolutiva e climatologia, transformando a concepção grega da Terra, enquanto deusa viva, numa teoria fundamentada cientificamente e apoiada em uma nova disciplina, a Geofisiologia.

Entretanto, apresentar o planeta Terra como Gaia – Mãe Natureza – de forma compreensível e tentar levantar algumas questões que mostrem a famosa relação organismo-ambiente e as dinâmicas fronteiras de contato é, para um geólogo, uma tarefa difícil e, por que não dizer, audaciosa.

Perls, o pai da Terapia Gestalt, dizia que não é possível analisar um ser humano independente do oxigênio que ele respira. Mesmo que suas palavras não devam ser tomadas ao pé da letra, o oxigênio, elemento chave para a existência da vida, está presente na atmosfera numa percentagem de 20,8%. Se sua concentração estivesse acima desse valor, relâmpagos poderiam transformar o planeta numa bola de fogo; valores abaixo acarretariam uma deficiência desse elemento para muitas espécies que não sobreviveriam, inclusive a nossa.

As algas microscópicas que vivem nos ambientes aquáticos, notadamente nos oceanos – fitoplancton – são as maiores responsáveis pela regulagem do percentual de oxigênio na atmosfera. Elas se beneficiam da "tecnologia" conhecida como fotossíntese, que é a transformação do C02 em oxigênio livre, na presença de luz solar.

É preciso ressaltar que os vegetais são os nossos "órgãos" externos da respiração. Eles retiram o CO2 e fornece o oxigênio, elemento indispensável para a vida animal. Da mesma maneira, sem o reino animal as plantas também morreriam, pois nós devolvemos à atmosfera o CO2, o mais importante "alimento" das plantas.

Todos sabem da importância da respiração e da necessidade de respirar um ar puro, hoje difícil nos grandes aglomerados urbanos. Até que ponto o não saber respirar corretamente ou respirar um ar contaminado interfere no equilíbrio (saúde) humano?

Um outro exemplo que demonstra que a Terra funciona como um organismo vivo é a salinidade das águas marinhas. A água do mar é salgada devido à quantidade de sais nela dissolvida, que chegaram e chegam aos oceanos através das erupções vulcânicas e do aporte de águas continentais. Se considerarmos os últimos 18 milhões de anos, a quantidade de sais lançados pelos rios no ambiente marinho já seria suficiente para transformar os oceanos em um verdadeiro mar morto, com teor de salinidade acima de 40%. Entretanto, a quantidade média de sais na água do mar permanece, desde origem dos oceanos, em 35%, porque os organismos microscópicos que habitam o ecossistema marinho concentram excesso de sais, permitindo que exista vida.

A origem da vida, como diz a ciência, se deu a 3 bilhões de anos, nos oceanos, e nós somos - à luz da teoria da evolução de Darwin - filhos desse grande útero materno.

Levando-se em consideração a quantidade de água que caiu na Terra ao longo de sua história geológica, ela seria suficiente para tornar o pH de todos os solos ácidos, tornando inviável a presença de vegetação no planeta. Entretanto, as bactérias e outros microorganismos que vivem nos solos garantem a cobertura vegetal. Os vegetais, por sua vez, interferem sobre o clima. Não fossem os mecanismos utilizados pelo fitoplâncton, zooplâncton e pelos microorganismos do solo, não existiria vida no planeta Terra.

Percebendo a Terra como ser vivo, Peter Russel, em seu livro "O Despertar da Terra" advoga que nós, seres humanos, constituímos as células do cérebro do planeta. Seria esse o inconsciente coletivo de Jung, produto do pensamento de 6 bilhões de "células" que formam o "cérebro global" da Terra viva?

Os desequilíbrios do planeta, provocados pela emissão de gases estufa na atmosfera, chuvas ácidas, buraco na camada de ozônio, desmatamentos e extinção de espécies, não sugere que o ser humano, como célula do cérebro do planeta, esteja naturalmente desequilibrado, precisando religar-se com os princípios de sua evolução biológica?

Inserir técnicas que levem o homem ao contato com o ambiente natural não seria um instrumento importante na prática da Terapia Gestalt? Saber que nós somos o planeta, materializado, quando estamos em awareness² com Gaia, é sem dúvida um elemento importante na compreensão da teoria da percepção enfocada pela Gestalt. Somos parte de Gaia e, como a parte contém o todo e o todo é maior do que a soma das partes, a Terra é a totalidade. A mãe natureza está doente. Ela necessita de um olhar sensível e equilibrado para se manter viva. Temos que deixar de se comportar como um ego encapsulado na pele ("Tudo que estiver dentro de minha pele sou eu, e o que está fora de minha pele não sou eu"). É preciso tornar porosa as fronteiras de contato. A Terra é a personagem principal. Nós, seres humanos, que adoecemos Gaia, não deveríamos ser figurantes, como forma de garantir a própria sobrevivência?

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¹Termo intraduzível do alemão, utilizado para abarcar a teoria da percepção visual baseada na psicologia da forma.
²Estar atento, advertido.

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