Inevitável, assim como era com a geração pré-informatizada de espiar a vizinha ao trocar de roupa.
Achei interessante o tema proposto para discussão e venho temperar e ampliar um pouco o assunto.
Primeiro, só pra descontrair uma excelente música do mestre Oswaldo Montenegro:
Lá vai também um texto que encontrei sem querer na revista masculina Trip que folheava na fila do mercado (com direito a bronca da primeira-dama):
Os significados do prazer
Conseguimos liberar o corpo, mas parece que ainda não sabemos como integrá-lo com a cabeça
Quanto de prazer é possível tirar de uma experiência? Acho que muito mais do que a maioria das pessoas espera.
Aprendi que o prazer sensorial é a base de toda experiência prazerosa, mas que ela pode ser maior quanto mais significado tiver para a pessoa. Por exemplo, fazer sexo é sempre bom, mas fazer sexo com afeto é melhor. E, sexo com afeto mais a intenção de fazer filho é muito melhor. Por isso, este último é mais raro! O gozo é o mesmo, mas o prazer é muito maior.
Outro exemplo, um copo de um bom vinho é sempre gostoso. O mesmo copo de vinho acompanhado de uma pessoa querida é melhor. Mas um copo de vinho com uma pessoa querida e conhecendo as condições da safra, a região de origem e sua composição permite saborear nuances que um paladar ignorante jamais alcançaria. O mesmo copo, pelo mesmo preço, mas com muito mais prazer.
Dissociar prazer do seu significado faz com que a gente perca o melhor da festa. Pelo simples fato de o ser humano ter sido feito com outros corpos além do físico. É uma pena que essa dissociação tenha se tornado mais frequente na sociedade contemporânea.
Parece uma ironia que a luta pelo direito ao prazer sem culpa, uma bandeira preciosa da minha geração, tenha acabado por empobrecer a própria experiência que tanto defendemos. Porque a ideia original era integrar o corpo com a cabeça, coisa que o rock’n’roll fez lindamente quando a pélvis do Elvis escandalizou os anos 50 do século 20. Foi tão revolucionário e agressivo que as transmissões de seus shows na TV cortavam sua imagem da cintura para baixo.
Conseguimos liberar o corpo, mas ainda não estamos conseguindo integrá-lo com a cabeça. Parece que cada um foi para um lado, com sérios prejuízos para os dois.
Acho que está na hora de integrar o corpo alienado com a cabeça consciente. Porque o corpo alienado e ignorante dominado pela busca do prazer sensorial indiscriminado acaba por se destruir como nos ensinou a Aids. E a cabeça consciente sem o corpo como instrumento de realização fica improdutiva e acaba entrando em profunda depressão. Estão aí duas doenças modernas: a Aids e a depressão.
Acredito que essa integração vai acontecer quando as pessoas aumentarem seu desejo por prazer.
Lições de Emanuelle
O prazer é mestre porque aponta o caminho da satisfação e da realização. O que precisamos é ampliar a consciência para poder tirar mais do mesmo. Consciência sobre a sua própria identidade para saber para que serve e o que fazer de sua vida. E consciência sobre sua circunstância para saber o que fazer para cumprir o seu destino.
O corpo já encontrou os seus limites. E o prazer sensorial no limite do corpo é pequeno demais perto do potencial que nós humanos temos para viver e realizar.
Lembro da heroína que deu nome ao filme mais tesão da minha geração – Emanuelle –, que precisou esgotar todo o potencial sexual do seu corpo para estar pronta para o amor. Pode ser que isso esteja acontecendo no nosso processo civilizatório. Tomara.
Ricardo
Álvaro Diogo "Vamos trocar ideias?"
Um comentário:
Gostei, unir o consciente ao corpo alienado é uma ótima idéia para o pudor excessivo se extinguir e quem sabe, uma vida sem créus da vida. Porém dizem do extinto humano, e que essa união se torna banal quando o extinto fala mais alto. Bem, vou parar por aqui pois o papo pode parecer cafageste de mais, mas concordem ou não... existem extintos contrários à esta utopia, ja disse sobre eles nosso caro Oswaldão nesta musica
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