--- Frase de Agora! ---
"A água é para os escolhidos
Mas como podemos esperar que sejamos nós..
... eu e você?"

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Destaque da Semana: Onde está o sol que estava aqui?
Ladrões de sol, crise hídrica e êxodo rural

domingo, 28 de setembro de 2008

Brisas de Outono Pt. I

“Sinta a Brisa de Outono
Tocar seus cabelos e te levar
Deixe a Brisa de Outono
Levar essas folhas pra algum lugar
Veja a metamorfose das cores alucinar
Ouça a melodia da vida elevar”

Ao som da bela canção, que por certo descrevia a minha tediosa tarde de outubro, refletia sobre teorias existenciais e sorvia a doce melodia da música que ecoava na sala, vinda do rádio próximo à lareira. Rádio que fora posto lá por objeção de um amigo italiano catedrático em “som quadrifônico”.
Balela.
Ele nem sabia o que essas duas palavras significavam. Meu simples mini system tornou-se alvo de sua obsessão por conseguir melhor acústica. Bem... Talvez o tenha feito, pois o volume estava adequado para ouvidos que cansaram da labuta e a música soava tão nítida...
Mas fato é que a canção pintava um quadro da cena em que eu vivia – seguindo a métrica enjoada e preguiçosa do cair de folha das árvores –, transformando o meu tédio em melodia.
Acompanhava o tique-taque do relógio de bolso repousado no parapeito, bem ao nível dos meus olhos. O tiquetaquear se esforçava para ser ouvido por entre os acordes oriundos do já velho e ultrapassado mini system.
Ao ritmo da canção mesclado ao metrônomo descompassado, observava a preparação pro inverno que as árvores normalmente fazem nesse período do ano; porém, acreditava veemente que com o clima em estado febril e insano, a queda de todos os anos, bela e singular, viria atrasada novamente ou mesmo nem daria o ar de sua graça.
Olhando janela à fora via o mundo que nunca foi tão real, mas agora era todo ilusão. As folhas despencavam preguiçosamente, redemoinhos atormentavam o descanso daquelas que já sobreviveram à primavera e ao verão – raras são as folhas que atravessam o outono e ainda permanecem intocáveis no inverno. Na calçada do outro lado da rua, crianças pulavam corda trajadas de saias, regatas, bermudas e chinelos; elas acreditavam ainda estar no verão.
Uma leve brisa, quente e confortante, me lembrara muita uma manhã de meados do verão retrasado, no qual tive a oportunidade de ver o nascer do sol de um pequeno casebre na Serra Pelada ao lado de uma pessoa que me fora muito especial. Vivera comigo durante toda a vida e falecera no acampamento, na noite desse mesmo dia – talvez o italiano estivesse com a razão: o capítulo de aventuras nunca volta a ser folheado, não sem que alguém se machuque.
Não a via há dois anos, mas agora reencarnava em brisa. Tocou meu queixo, meu nariz, minha boca, tremulou os meus poucos fios grisalhos de cabelo, e não tardou muito tocou minha alma.

Tocou minha alma e arrepiou-me do Oiapoque ao Chuí; ai que saudades do meu Brasil, ai que saudades da minha guria... Ao tocar minha alma também tocou o mundo e a vida. Vi a brisa duelar com o redemoinho. Vi ambos tentar dominar as folhas, que indiferentes à batalha, apenas buscavam sossego e tranqüilidade.
Numa fração de segundos o redemoinho cedeu e dissipou-se e a brisa levou as folhas em direção às crianças que agora se divertiam não mais com a corda e sim com o revolutear das folhas em suas cabeças. As folhas estavam livres e planavam agora irrequietas e sorridentes. Alcançavam então a liberdade.
Tudo parecia tão mágico. As cores tão vivas dessa cena, acompanhadas do alaranjado típico de outono. A vida fluía em paz e feliz, a vida era elevada à melodia mais doce, que qualquer um pode possuir bastando acreditar e se deixar levar.

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