Uma nova brisa chegou de surpresa arrepiando-me a nuca. A porta dos fundos estava aberta. Senti novamente a sensação de prazer e nostalgia, que me trazia lembranças da pátria querida.
O toque n’alma de ambas as brisas, completaram meu espírito, me elevando ainda mais a melodia da minha vida. Completaram a guria do meu coração que corria bipartida enfeitiçando e enaltecendo a paisagem.
Aquela cena tão especial, jamais vista por olhos descrentes, me tocava profundamente ao som da canção que meus ouvidos forçosamente apurados sorviam. Um outono perfeito para alcançar a paz eterna.
A chegada da nova brisa, tão terna e tropical quanto a outra, avivava lembranças da terra onde canta o sabiá.
E as brisas agora serpenteavam sem direção, livres de qualquer métrica que um dia possa ter aprisionado poetas ou músicos. Serpenteavam de cima pra baixo e de um lado pra outro, causando a mais calorosa confusão entre as folhas que não sabiam nem mais onde estavam de tanto rodopiar, cair e voar. Liberdade! Tocavam os céus, era possível ver a alegria das folhas, e mais estonteante ainda eram os sorrisos das crianças que se encantavam ao ver a liberdade em tom alaranjado e sentir o frescor aconchegante e caloroso das Brisas de Outono, que faziam jus a suas indumentárias.
Emocionei-me, e ainda me emociono ao lembrar, mesmo tão poucos minutos depois. Toda aquela confusão, todos aqueles sorrisos agitados, uma brincadeira já quase extinta e toda a sensação de liberdade em tão pouco tempo, em tão fração de melodia. Meu coração se encantava.
Obedeci ao que a canção pedia, respirei fundo e cantei aquele acróstico no melhor timbre e tom que nunca poderia alcançar em outonos normais:
“Brisa que faz sonho se realizar
Rodopia pelo ares sem se cansar
Imagine como uma brisa roda o mundo inteiro
Sábias estórias ela pode te contar
Assim que a ventania terminar este berreiro...”
Ah! Ao respirar fundo traguei o hálito selvagem de liberdade que perfumava minha sala, minha casa, a rua e não sendo exagero, talvez o país estivesse com a essência brasileira. Sim, agora mais do que nunca tenho certeza: as brisas eram da terra além mar chamada Brasil.
Como me fez bem soltar a voz. Estava tão excitado com tudo aquilo que vivenciava, sem contar toda a sensação de nostalgia que me trouxe boas recordações. Parecia um sonho. Sim! Um sonho de sonhador, mas ainda assim, um sonho.
Toda a magia em laranja profundo, todas as folhas a planar, as crianças a se divertirem e eu a viver um sonho de outono. Camus estava certo: “Outono é outra primavera: cada folha uma flor”. Ouvi essa frase quando passeava com minha avó por essas bandas, há muito tempo, era ainda uma criança. Ouvi de um mendigo que perambulava no parque com alguns livros debaixo do braço. Sei pouco sobre o autor da frase, creio que tenha vivido por aqui no milênio passado, por volta dos anos 40 e 50. O mendigo lhe adorava e parecia ter todas as suas frases na ponta da língua. Mas essa me chamou mais a atenção. Tanto que me lembro dela até hoje, e quem tem muitos anos a carregar como fardo sabe o quanto é difícil fazer a memória trabalhar. Pois bem, era minha realidade: cada folha uma flor. As mais belas flores que minhas dezenas de primaveras vividas não podiam sequer igualar em beleza e encantamento.
"A água é para os escolhidos
Mas como podemos esperar que sejamos nós..
... eu e você?"
Máquina do Tempo: Vaga Viva do Coletivo Ideia Nossa. A única vaga viva do lado de cá da ponte =) Vaga Viva do Ideia Nossa
Destaque da Semana: Onde está o sol que estava aqui? Ladrões de sol, crise hídrica e êxodo rural
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
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