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sábado, 25 de outubro de 2008

O Tapão

Aí gente, colocando o conto do Roberto, prof de português la do cursinho, o fato é verídico e aconteceu mesmo com ele ! haha, curtam.. é pequeno.
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(Uma história sobre futebol)

Há certas coisas da vida que mexem intensamente com a gente. Certos acontecimentos, eu digo. Situações que alteram nosso cotidiano e nos pegam de surpresa… Eu chamo essas coisas de “Tapa-na-Cara”. Justamente pelo estrondo que causam, acho que é um nome bem adequado.

Agora, se o leitor me permite, contarei o meu “Tapa-na-Cara” mais gostoso (no bom sentido!).

Esta é uma história verdadeira, por isso mudarei os nomes para preservar a integridade dos citados.

Eu tinha uns 15 anos de idade e era o capitão do “Melhor-que-Nada Futebol Clube” (MQN). O melhor time juvenil de rua da Zona Leste… Tá bom, o melhor time do Carrão… Uns dos melhores da rua Queriri (e não se fala mais nisso!).

Tínhamos por hábito, jogar contra equipes de outros bairros aos domingos. Os jogos eram fantásticos, posso afirmar que o time era formado pela nata dos jogadores mais experientes nessa modalidade, muito embora, depois de mim, o jogador mais velho vivesse a plenitude dos seus… Treze anos e pouco… Talvez menos.

Íamos bem na temporada, até que veio a crise e começamos a perder uma série de jogos consecutivos.

Foi quando se mudou para nossa rua um garoto no mínimo curioso. Era Chico, um rapaz inteligente e tagarela. Até demais… Só que, além disso, Chico era deficiente físico. Tinha uma má formação da estrutura óssea, de forma que ficar em pé era algo que ele fazia com muita dificuldade. No entanto, ele era apaixonado por futebol e jogar bola era algo que ele não abria mão.

Ele, de certa forma, me incomodava. Eu tinha dó de vê-lo tentando correr atrás da bola enquanto o faziam de bobo. E o pior é que ele me adorava. Eu era o único que tinha a preocupação em dar atenção para ele e também eu era o único que tinha paciência para apoiá-lo em pé.

Em um domingo, me preparava para mais uma partida, seriamente preocupado com o nosso desempenho, quando vejo saindo de casa, com enorme ansiedade no semblante… Era Chico… e ele queria jogar…

Foi pelo menos 15 minutos de conversa para convencê-lo que num jogo contra equipes de outras ruas ele não poderia jogar. Afinal de contas eu primava pela segurança dele… Tá bom, eu queria ganhar aquele jogo! Era questão de honra.

Enfim, entramos em acordo. Se durante o 2o. tempo estivéssemos ganhando por três gols de diferença ele entraria. Claro que era raro isso acontecer, mas ele concordou.

Os jogos aconteciam da seguinte maneira: Vira 8 e acaba 16, (Ponto final). Não tem juiz, portanto, todos decidiam quando parar. Às vezes, quem gritasse mais alto tinha razão.

A partida era um grande clássico, MQN x “Os Laranjas”, nosso maior rival, e, para meu estresse, Chico estava com mais vontade de jogar do que nunca.

O jogo começa e depois de, aproximadamente, 15 minutos Chico queria jogar de qualquer maneira. Seu argumento era muito claro: “Eu garanto Beto!!!” ou então “Vamos ganhar esse jogo!!!”. E ele ia mais longe: “Vocês estão morrendo, DEIXA EU ENTRAR!!!”.

Confesso, eu não sabia se ria ou se chorava. Ele era extremamente abusado! Eu pensava comigo: “Como ele pode falar assim?”. Os outros meninos riam muito quando ele falava e esperneava como um técnico da seleção.

E assim acabava o primeiro tempo, 8 X 7 para os visitantes. Jogo duro, só que mais duro ainda, era agüentar o Chico dizendo o que ele faria se estivesse no meu lugar em um lance que perdi um gol cara-a-cara com o goleiro… Foi horrível.

O segundo tempo começa e somos surpreendidos por uma tempestade de gols, daquelas que deixam qualquer Romário desanimado e começamos a nos desentender. É passe errado, é gol perdido, “a vida não presta” eu pensava… E o Chico… Ele falava enquanto eu escutava. Não podia, simplesmente, dizer que ele atrapalharia ainda mais a equipe.

A essa altura eu não podia mais sair da defesa. A partida estava 15 X 11 e a sombra da derrota se aproximava. Nosso time só conseguia bater cabeça e resmungar. Até que Chico queimando seus últimos cartuchos, me pediu para falar:

“Beto, por favor, o jogo vai acabar e eu não vou jogar!”

“Mas, Chico, você entra, a gente toma um gol e o jogo acaba.”

“O jogo ainda não acabou… A gente vai ganhar, eu tenho certeza!”

Eu não tinha mais argumentos, a derrota era certa então eu decidi, finalmente, deixá-lo entrar (apesar dos protestos veementes do menino que saiu). Mas, por algum motivo, o clima do time foi melhorando. Jogávamos mais soltos e quando eu menos esperava encostamos no placar. Aí, o time adversário ficou todo desequilibrado.

Devido a sua condição, Chico apoiava-se na trave do time adversário e esperava a bola vir em sua direção e assim ele tentava alguns chutes, no entanto só o que ele conseguia eram algumas trombadas e chutes desajeitados que mal chegavam ao gol adversário.

Eu me perguntava “como podia ele ter tanta vontade de vencer?” Seus pés eram virados para dentro, suas costas arqueadas para frente e até suas mãos eram tortinhas. Ele tinha tudo para não estar em campo, mas lá estava ele, atento a tudo e pronto para enfrentar o que fosse necessário.

Quando dei por mim, o placar estava 15 X 15 e naquele instante vi que realmente podíamos ganhar, então fomos ao ataque dispostos a vencer a guerra.

Chico, que estava totalmente vencido pelo cansaço, não saia da trave do adversário. Foi quando aconteceu… Um jogador adversário que jogava na defesa resolveu recuar a bola para o goleiro. Chico, sorrateiramente, entrou na frente da bola, surpreendendo ao goleiro que ao chutá-la, encontra pela frente as pernas tortas do Chico.

Foi tudo muito rápido, mas, naquele instante, meu coração parou… A bola girava em direção ao gol de um jeito tão bonito que foi difícil assimilar o golpe. Nunca acreditei que fosse possível vencer a partida e não consegui participar da comemoração da vitória. Levantavam Chico e riam muito.

Acho que nunca vi tanta satisfação nos olhos de alguém. Por mais dúvidas que eu tivesse, Chico sabia que era perfeitamente capaz de participar do jogo como qualquer um, e mais que isso, ele tinha certeza que podíamos vencer o jogo, ninguém precisava dizer isso para ele.

Naquele dia não foi fácil dormir, eu ainda estava “grogue” do “tabefe” e meus olhos estavam diante de um mundo totalmente diferente. Percebi que eu, com minha saúde perfeita, não tinha a mesma sede se vida que o Chico e isso me entristeceu. Quanta coisa, perdi a oportunidade de viver por não ter a força que o Chico me mostrava que tinha.

Somente após muitas horas me acalmei e as idéias voltaram ao normal. Achei até meu bom humor, pois acho que nunca mais vou esquecer do Chico falando – “Não falei, que a gente ia Ganhar, não falei!!!”.

(Roberto Bibancos Jr)

Um comentário:

Álvaro Diogo disse...

hahah..eu gostei sim, mas tá mais pra uma fábula do q pra um conto..gostei bastante da lição de moral no final...

parabéns!

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