--- Frase de Agora! ---
"A água é para os escolhidos
Mas como podemos esperar que sejamos nós..
... eu e você?"

Máquina do Tempo: Vaga Viva do Coletivo Ideia Nossa. A única vaga viva do lado de cá da ponte =) Vaga Viva do Ideia Nossa

Destaque da Semana: Onde está o sol que estava aqui?
Ladrões de sol, crise hídrica e êxodo rural

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Brisas de Outono Pt. III

Encantado. Meu coração se encantava mais e mais com o rodopiar incansável das... Brisa se cansa? Uma brisa corta o mundo gelando ou aquecendo diversas almas, contando diversas estórias, de diversas partes do globo, poderia ela cansar e descansar ao tronco de uma árvore? Bom, se as brisas se cansam, as que eu presenciava a rodopiar eram magicamente incansáveis. Espero não esquecer dessa dúvida, quem sabe Camus possa me ajudar a responder quando encontrá-lo daqui a algum tempo passeando pelo Jardim do Éden...
As crianças contemplavam o vôo das folhas alaranjadas. A saia verde deixava um rastro luminoso, o mesmo acontecia com a bermuda amarelada e o chinelo azul.
Num espanto notei que os rastros luminosos criavam formas geométricas no ar. As folhas voavam agora por entre círculos e triângulos retângulos coloridos. E surgindo e escondendo-se entre todas as luzes também via criaturas, sim nesse momento senti calafrios, não de prazer, mas de espanto. Entre as cores brasileiras, Curupira assobiava recostado ora no muro, ora em cima da árvore; Iara mergulhava nos céus e Boitatá corria como o fogo-fátuo corre atrás do curioso que se arrisca a entrar no pântano. Mas a presença deles foi instantânea e logo as cores e luzes reinavam novamente.
Não demorou muito, as três cores que me eram muito familiares formavam as exatas formas da bandeira que tremulava lá longe, além mar, no Distrito Federal. Um retângulo verde dava base às peraltices das folhas a voar. O amarelo correu por entre as casas vizinhas e num salto caiu como um losango ouro no fundo verde amazônico. O azul ondulava e dava a impressão das crianças estarem a nadar, mas logo tomou forma de um perfeito círculo e meteu-se nas duas formas já em posição. Vi o mais belo jogo de luzes e cores sobre o telhado vizinho, e as crianças pareciam nem notar de tão entretidas que estavam sobre o domínio das folhas. Não acreditei. Por um momento tudo parecia um sonho, não podia ser real. As brisas que rodopiavam entre as cabeças das crianças serpentearam vertiginosamente até a linha do horizonte e voltaram tão rápido quanto a ida e mergulharam no azul do mar. No azul da bandeira. E lá tomou a imagem e o sorriso da minha guria - assim sempre a chamei desde de que nos conhecemos... - Ah! Bons tempos aqueles.
Fez-me um gesto, como se me pedisse paciência. Fiquei sem entender. Como era possível? O mesmo olhar, as rugas estavam em seus devidos lugares e agora junto ao hálito de liberdade senti o aroma de vinagre.
Minha guria sempre gostara de vinagre em todos os tipos de pratos – isso lhe dava certa peculiaridade divertida, mas devo confessar que por vezes tirava meu apetite –, então não poderia faltar na macarronada. E foi exatamente durante uma refeição noturna, uma macarronada temperada com vinagre que ela veio a falecer. Um misterioso infarto súbito.

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