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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O que esperar de Barack Obama

Só pra linkar com o post da Maga sobre o Mr. Obama e pra perseguição obanística não cessar.

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Países emergentes, especialmente o Brasil, devem estar atentos aos objetivos anunciados pelo novo presidente americano: reforçar a capacidade “de derrotar inimigos e apoiar os amigos”

Por Bernardo Kucinski

Para tirar os Estados Unidos de sua maior crise desde a grande depressão, Barack Obama escolheu pesos pesados do pensamento estratégico americano. Entre eles, o general veterano da Guerra Fria James Jones, ex-comandante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e os dois principais formuladores das políticas americanas de dominação financeira mundial: Lawrence Summers, que foi secretário do Tesouro de Clinton e economista-chefe do Banco Mundial, e Paul Volcker, que presidiu o Banco Central americano, o FED, por oito anos.

Ainda manteve como secretário de Defesa o ex-diretor da CIA e entusiasta da invasão do Iraque, general Robert Graves. E para o posto-chave de secretário do Tesouro chamou o mesmo Timothy Geither, que como dirigente do Banco Central em Nova York permitiu que Wall Street virasse o cassino que virou.

Percebendo a decepção de seus eleitores, que o elegeram para mudar o sistema, não para salvá-lo, Obama diz que os escolheu por sua experiência e competência. “Os melhores e os mais brilhantes”, disse à mídia americana. A mudança viria dele, Obama. Mas competência não é atributo neutro. O competente para matar pode não ser competente para salvar. O linguista e analista político Noam Chomsky, professor emérito do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), diz que essas nomeações mostram que, por trás de seu “discurso altivo”, Obama não passa de um típico centrista do Partido Democrata.

Obama lecionou Legislação durante dez anos na Universidade de Chicago, bunker do neoliberalismo. Filiou-se à escola de Economia chamada behaviorista, ou seja, comportamental, dissidência do neoliberalismo. Os behavioristas confiam, como os neoliberais, na superioridade dos mecanismos de mercado e da livre iniciativa, mas não acham que os mercados sempre tendem ao equilíbrio ou que as decisões de pessoas e empresários sejam sempre racionais.

Essa discordância não impede que Obama se encaixe com perfeição num sistema em que o liberalismo é a cultura dominante e o próprio aparelho de Estado, que ele agora vai dirigir, é orientado por uma lógica de interesses de mercado. Nesse sistema, o secretário do Comércio é sempre escolhido pelas grandes empresas, o do Tesouro é sempre o homem dos bancos e assim por diante. Barack Obama seguiu o figurino.

Mas com uma diferença crucial: ao nuclear seu gabinete em torno dos estrategistas do poderio mundial americano, indica que é nessa esfera que vai ser tentada a saída para a crise doméstica. Essa é a grande diferença entre os Estados Unidos da depressão dos anos 30, quando ainda não eram a potência hegemônica, e os Estados Unidos de hoje. Mesmo assim, somente depois de entrar na Segunda Grande Guerra, os Estados Unidos saíram da depressão, pouco tendo adiantado o New Deal de Roosevelt, conforme me disse certa vez em entrevista o cientista político Paul Sweezy (1910-2004).

Por isso, é mera cortina de fumaça a promessa de Obama de criar 2,5 milhões de empregos até 2011, investindo US$ 100 bilhões em infraestrutura e modernização de escolas. Economistas americanos calculam que para isso seria preciso inverter a curva de desempenho da economia americana do atual encolhimento de cerca de 4% ao ano para um crescimento de 3,5% ao ano. Apenas em 2008 já foram eliminados quase 2 milhões de empregos.

Nas economias de mercado, crises desse tipo são purgadas até a exaustão, como se purga uma gripe. Ao contrário do que Obama hoje promete, os remédios clássicos do sistema são o próprio desemprego, pressionando para baixo o custo da força de trabalho e a destruindo das empresas menos eficientes. Isso só se consegue com recessão. Portanto, ou Obama está enganado ou está enganando.

Poderio em pé
Já a derrocada dos grandes bancos de Wall Street, embora enfraquecendo o poderio americano, não alterou o fato básico de que os EUA ainda detêm supremacia militar, tecnológica e cultural e o maior poder de compra do mundo capitalista. Rubens Ricupero exemplifica essa tese com o fato de que a frota naval americana é maior do que as 13 maiores frotas navais do mundo juntas. Foi a percepção disso que criou o paradoxo pelo qual a poupança de todo o mundo, em vez de fugir do dólar, nele buscou proteção, quanto mais a crise se agravava.

Esse é o paradoxo de que vai se valer Paul Volcker, chamado por Obama para dirigir o importante Comitê para Recuperação da Economia, como se valeu das duas vezes anteriores. Para salvar o dólar da crise provocada pelos gastos excessivos da Guerra do Vietnã, Volcker propôs a Nixon renegar a garantia ouro do dólar em 1971. Com esse trambique, o Tesouro americano pôde imprimir dólares à vontade, sem nenhum lastro. Além do calote implícito nessa decisão, o preço maior pago pelo resto do mundo foi a destruição do tratado de Bretton Woods, sem que nada de mesmo porte fosse colocado em seu lugar. Assim começou a desordem cambial e monetária que nos levou à tragédia financeira de hoje.

Volcker atacou de novo em 1979, quando a economia americana se viu ameaçada pela estagflação - combinação de inflação alta e crescimento baixo provocados pela alta do petróleo. Numa reunião de emergência do Banco Central americano convocada num fim de semana, e sem consultar nenhum governo ou entidades como o FMI, Volcker baixou um arrocho monetário tal que a taxa de juros principal dos Estados Unidos, o prime rate, saltou de 9% para 12% e depois para 14%, batendo em 20% em maio do ano seguinte.

Naquele momento, a América Latina havia acumulado aproximadamente US$ 180 bilhões em dívidas atreladas ao dólar com cláusulas de juros flutuantes. Dívidas contraídas quando o juro estava entre 4% e 6% ao ano e que agora teriam de ser remuneradas a um juro cinco vezes maior. Em janeiro de 1981, o prime chegou ao espantoso nível de 21,5%. A conta de juros do México mais que quadruplicou, de US$ 2,3 bilhões em 1979 para US$ 9,8 bilhões em 1982. Foi o primeiro a quebrar, em setembro daquele ano. Seguiu-se o Brasil, cuja conta de juros mais que dobrou, de US$ 4,5 bilhões para ?US$ 11,9 bilhões. E assim foram quebrando todos os países periféricos da área do dólar, um após o outro.

Durante seis anos vigorou essa política econômica conhecida como reaganomics (referência ao presidente Ronaldo Reagan). Nesse período, a América Latina pagou US$ 209,7 bilhões de juros da dívida externa, e mesmo assim o principal da dívida em vez de diminuir aumentou, chegando a US$ 368 bilhões. Quebraram países e empresas, pois poucas conseguiram gerar lucro superior a essa taxa de juros. Nos Estados Unidos, grandes empresas estavam protegidas por uma legislação que permitia descontar os juros pagos do imposto de renda devido. Mesmo assim, milhares de pequenos agricultores americanos foram à ruína.

Paul Volcker pode não ter tido a intenção de quebrar a América Latina, mas sabia dos efeitos catastróficos dos juros anômalos sobre a dívida latino-americana, porque antes de presidir o FED havia sido subsecretário do Tesouro para Finanças Internacionais durante cinco anos - de 1969 a 1974.

O que Volcker e seu comitê poderiam tirar do bolso do colete desta vez? Poderiam desvalorizar fortemente o dólar, incentivando as exportações americanas, impor novas barreiras protecionistas contra produtos estrangeiros e pressionar para que países periféricos abram mais seus mercados a produtos americanos.

A desvalorização tem também a vantagem de dar um calote disfarçado na dívida americana de US$ 13 trilhões. Será esse o mico que Volcker tentará passar para o resto do mundo? Os chineses, que aplicaram US$ 1,2 trilhão em títulos do governo americano, já desconfiam de um calote: “Esperamos que Washington tome as medidas de segurança necessárias à garantia do patrimônio dos investimentos chineses nos EUA”, cobrou no início de dezembro Zhou Xiaochuan, o presidente do Banco Central da China.

Fonte: http://www.revistadobrasil.net/rdb31/economia.htm

Um comentário:

George Ruchlejmer disse...

Hahahaha, não disse que aquele remanejamento todo mais parecia trocar rifles por bazucas ?

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