Navegar é Preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso". ¹
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
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Talvez o fato de ter linkado gênio, com criatividade e o fato de ser preciso criar algo novo tenha me remotado à esse poema.
Pessoa escreveu muito, por muitas pessoas diferentes, ainda aqui postarei um texto de Saramago sobre Pessoa, e ele afirma que seus heterônimos foram surgindo no espelho casualmente, mas talvez a persistência e perseverança de escrever e de tentar entender o mundo de diferentes ângulos que fez Pessoa criar tantos heterônimos.
Isso me lembra uma frase:
"O gênio, esse poder que deslumbra os olhos humanos, não é outra coisa senão a perseverança bem disfarçada."
Johann Wolfgang von Goethe (Escritor Alemão)
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Bom, mas concordemos que viver não vale de nada se não fazemos algo de nossas vidas, Weisberg quis dizer que gênios são aqueles que se esforçam por fazerem algo de suas vidas, algo novo ao seu redor. Talvez. Todo esse papo genial me lembra outra frase:
"A maioria das pessoas teme a morte porque não fez algo de sua vida."
Peter Ustinov (Ator Inglês)
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Fico por aqui, e vou deixá-los com um brilhante texto de José Saramago sobre Fernando Pessoa retirado de seu blog, O Caderno de Saramago, e um link de um texto de Pessoa, O Banqueiro Anarquista, que também vale a pena ser conferido, não o posto aqui pois é demasiado grande para um post.
Sobre Fernando Pessoa
Era um homem que sabia idiomas e fazia versos. Ganhou o pão e o vinho pondo palavras no lugar de palavras, fez versos como os versos se fazem, como se fosse a primeira vez. Começou por se chamar Fernando, pessoa como toda a gente. Um dia lembrou-se de anunciar o aparecimento iminente de um super-Camões, um camões muito maior que o antigo, mas, sendo uma pessoa conhecidamente discreta, que soía andar pelos Douradores de gabardina clara, gravata de lacinho e chapéu sem plumas, não disse que o super-Camões era ele próprio. Afinal, um super-Camões não vai além de ser um camões maior, e ele estava de reserva para ser Fernando Pessoas, fenómeno nunca visto antes em Portugal. Naturalmente, a sua vida era feita de dias, e dos dias sabemos nós que são iguais mas não se repetem, por isso não surpreende que em um desses, ao passar Fernando diante de um espelho, nele tivesse percebido, de relance, outra pessoa. Pensou que havia sido mais uma ilusão de óptica, das que sempre estão a acontecer sem que lhes prestemos atenção, ou que o último copo de aguardente lhe assentara mal no fígado e na cabeça, mas, à cautela, deu um passo atrás para confirmar se, como é voz corrente, os espelhos não se enganam quando mostram. Pelo menos este tinha-se enganado: havia um homem a olhar de dentro do espelho, e esse homem não era Fernando Pessoa. Era até um pouco mais baixo, tinha a cara a puxar para o moreno, toda ela rapada. Com um movimento inconsciente, Fernando levou a mão ao lábio superior, depois respirou fundo com infantil alívio, o bigode estava lá. Muita coisa se pode esperar de figuras que apareçam nos espelhos, menos que falem. E porque estes, Fernando e a imagem que não era a sua, não iriam ficar ali eternamente a olhar-se, Fernando Pessoa disse: “Chamo-me Ricardo Reis”. O outro sorriu, assentiu com a cabeça e desapareceu. Durante um momento, o espelho ficou vazio, nu, mas logo a seguir outra imagem surgiu, a de um homem magro, pálido, com aspecto de quem não vai ter muita vida para viver. A Fernando pareceu-lhe que este deveria ter sido o primeiro, porém não fez qualquer comentário, só disse: “Chamo-me Alberto Caeiro”. O outro não sorriu, acenou apenas, frouxamente, concordando, e foi-se embora. Fernando Pessoa deixou-se ficar à espera, sempre tinha ouvido dizer que não há duas sem três. A terceira figura tardou uns segundos, era um homem daqueles que exibem saúde para dar e vender, com o ar inconfundível de engenheiro diplomado em Inglaterra. Fernando disse: “Chamo-me Álvaro de Campos”, mas desta vez não esperou que a imagem desaparecesse do espelho, afastou-se ele, provavelmente tinha-se cansado de ter sido tantos em tão pouco tempo. Nessa noite, madrugada alta, Fernando Pessoa acordou a pensar se o tal Álvaro de Campos teria ficado no espelho. Levantou-se, e o que estava lá era a sua própria cara. Disse então: “Chamo-me Bernardo Soares”, e voltou para a cama. Foi depois destes nomes e alguns mais que Fernando achou que era hora de ser também ele ridículo e escreveu as cartas de amor mais ridículas do mundo. Quando já ia muito adiantado nos trabalhos de tradução e poesia, morreu. Os amigos diziam-lhe que tinha um grande futuro na sua frente, mas ele não deve ter acreditado, tanto assim que decidiu morrer injustamente na flor da idade, aos 47 anos, imagine-se. Um momento antes de acabar pediu que lhe dessem os óculos: “Dá-me os óculos” foram as suas últimas e formais palavras. Até hoje nunca ninguém se interessou por saber para que os queria ele, assim se vêm ignorando ou desprezando as últimas vontades dos moribundos, mas parece bastante plausível que a sua intenção fosse olhar-se num espelho para saber quem finalmente lá estava. Não lhe deu tempo a parca. Aliás, nem espelho havia no quarto. Este Fernando Pessoa nunca chegou a ter verdadeiramente a certeza de quem era, mas por causa dessa dúvida é que nós vamos conseguindo saber um pouco mais quem somos.
José Saramago
O Banqueiro Anarquista
http://www.cafepensante.net/obanqueiroanarquista/index.php
Fontes: http://www.secrel.com.br/JPOESIA/fpesso05.html
http://caderno.josesaramago.org/
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¹"Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu
http://www.cafepensante.net/obanqueiroanarquista/index.php
Fontes: http://www.secrel.com.br/JPOESIA/fpesso05.html
http://caderno.josesaramago.org/
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¹"Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu
2 comentários:
Ma se ta bonado de frases hein ? uhahuauha ... muito bom o post, eu tive novamente outro desanimo com o tamanho pra ler, mas força de vontade chegou junto com um saco de balas de banana pra ajudar ! ... haha, to no blog desde as 12:30, e ja são 17:12 ... cansei ! uhahuahua
Mas muito bom os textos, principalmente o de Jose Saramago... vlw man, um outro dia leio o que faltou do Pessoa sobre o Bancário...
ehiuaheiuaheiaue é que esses dias eu andei caçando frases nas colunas "Dito & Feito" aqui na coleção da Super Interessante, agora to cheio de coisas novas...ehauiehaiuehaei
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